O instrumento usado na prática de um ato histórico irá para o lugar onde costumam ser guardados objetos com essa carga. Nesta terça-feira (10), a Justiça decidiu enviar para o Museu Criminal da Polícia Federal a faca que Adélio Bispo de Oliveira enfiou na barriga de Jair Bolsonaro (PSL) durante a campanha eleitoral de 2018.
A decisão do juiz Bruno Savino, da 3ª Vara da Justiça Federal em Juiz de Fora (MG), atende a pedido do MPF (Ministério Público Federal) e da Polícia Federal. Ele considerou haver "relevante valor histórico" na lâmina de 30 cm manuseada por Adélio na tentativa de assassinato, que completou um ano na sexta-feira (6).
Para o magistrado, a peça representa a violência sofrida pelo presidente e, "sobretudo, simboliza, a partir de uma ótica mais ampla, a agressão cometida contra o próprio regime representativo e democrático de direito". Savino afirmou haver "interesse de sua conservação em prol da história política recente do país".
A peça -que hoje está sob a guarda da Justiça Federal, já que foi usada como prova no processo que concluiu ser Adélio o culpado pelo crime- será levada para o Museu Criminal da Polícia Federal, com sede em Brasília.
A vontade de incorporar a faca ao acervo foi expressa ao juiz pela diretoria da Academia Nacional de Polícia, o núcleo de formação da PF. A justificativa foi a de que a arma branca foi periciada pela corporação, responsável pela investigação do atentado.
Além da faca, serão repassadas à PF as hastes parecidas com cotonetes (descritas na decisão como suabes) que foram usadas nas perícias e guardam amostras de DNA de Bolsonaro e de Adélio.
O material será entregue ao delegado responsável pelo caso, Rodrigo Morais, que deverá fazer o encaminhamento ao museu. Ele disse à reportagem que tomará as providências assim que for notificado oficialmente.
Como consequência da facada em seu abdômen, Bolsonaro foi submetido no domingo (8) à quarta cirurgia em 12 meses. Desta vez, os médicos tiveram que corrigir uma hérnia surgida na região onde foram feitas as incisões nas operações anteriores.
Segundo boletim médico divulgado nesta terça (10), o presidente apresenta boa recuperação. Ele está afastado até quinta-feira (12) do cargo, ocupado interinamente pelo vice Hamilton Mourão (PRTB).
Adélio Bispo de Oliveira, que está preso desde o crime no presídio federal de Campo Grande (MS), foi declarado inimputável (incapaz de responder por seus atos). Por ter insanidade mental, ele recebeu da Justiça a chamada absolvição imprópria, usada para casos em que o réu é reconhecidamente culpado, mas não pode ser punido.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, Adélio está recusando o tratamento psiquiátrico na prisão e mantém obsessão por matar Bolsonaro e também o ex-presidente Michel Temer (MDB).
Na mesma decisão em que despachou sobre o destino da faca, o juiz Bruno Savino determinou a renovação por mais um ano da permanência do autor no presídio de Campo Grande.
O magistrado reiterou que existe "elevada periculosidade do preso e do concreto risco à sua vida". Além de ser uma medida de segurança para Adélio e para seus potenciais alvos, a prisão dele no estabelecimento tem como objetivo assegurar condições para o tratamento psiquiátrico.
A prisão de Adélio, tecnicamente chamada de medida de segurança de internação, é por tempo indeterminado. A renovação anual é uma exigência do sistema federal de presídios de segurança máxima.
Nos últimos meses, o autor da facada insistiu, em cartas enviadas à família e ao juiz do caso, em sua transferência de Campo Grande. Savino negou a reivindicação do preso.
Adélio, que recebeu dos psiquiatras que o avaliaram o diagnóstico de transtorno delirante persistente, usou como justificativa para o pedido o fato de que sofre "investidas satânicas" na penitenciária onde está. "Este presídio aqui é um lugar de maldições, um presídio projetado pela maçonaria onde o satanismo maçom aqui é terrível", escreveu ele aos familiares que vivem em Montes Claros, no norte de Minas.
Na semana passada, o Ministério Público Federal autorizou a PF a prorrogar em 90 dias o prazo para concluir o inquérito que apura se houve mentores, mandantes, cúmplices, financiadores ou colaboradores na tentativa de assassinato do então presidenciável.
A última questão a ser elucidada é quem teria contratado os advogados de Adélio. Até agora, a PF não conseguiu identificar a participação de ninguém mais no planejamento e na execução do ataque. As suspeitas e boatos sobre o episódio alimentam até hoje uma série de conspirações e fake news.