Fátima Belém, artesã e fazedora de cultura com orgulho (Fotos: Lúcia Xavier)
Fátima e as meninas do ateliê da Café com Arte
Ateliê da Café com Arte
A artesã Fátima Belém, presidente da Associação Café com Arte de Petrolândia, tem muito o que comemorar neste mês de outubro que, segundo ela, veio recheado com uma tapioca. Recheado de coisas boas para a associação e, por extensão, para a cidade. Em meados do mês, a Café com Arte formalizou com o Sebrae/PE o contrato de uma nova etapa do Sebraetec. Entre os dias 19 e 21, delegadas da associação participaram do Contrarte, congresso nacional de artesãos realizado em Natal, no RN, onde lutou pela sanção presidencial à regulamentação da profissão, sancionada no dia 22, pela Lei Federal nº 13180/2015. Na viagem de volta a Petrolândia, assistiram à apresentação dos projetos classificados na fase final do Funcultura 2014/2015. A associação apresentou dois projetos e um deles foi aprovado: Rede de Artesanato, Rede de Sustentabilidade.
Na manhã dessa segunda-feira (27), a reportagem do Blog de Assis Ramalho e da Web Rádio Petrolândia conversou com Fátima Belém, a pequena notável de Petrolândia, mais conhecida como Fafá. Confira abaixo a entrevista.
Lúcia Xavier: Bom dia, Fafá! A Associação Café com Arte teve aprovados projetos que vão ser iniciados ainda este ano ano e em 2016. Por favor, me conte sua história. Eu fico impressionada com a sua capacidade de articulação e de crescer fazendo o coletivo crescer junto.
Fátima Belém: Bom dia, Lúcia! É um prazer estarmos lhe recebendo para essa entrevista. É uma alegria estar, junto com o município de Petrolândia, buscando algo de bom, algo que beneficie a Associação Café com Arte, porque a Associação Café com Arte não deixa de ser meu filho mais novo. Portanto, me emociono muito, gosto muito da equipe que trabalha conosco, a equipe que vive aqui conosco, juntos inovando, trazendo novas ideias, e, sobre o social, com o município, isso também é uma outra parte que eu me preocupo muito. Participamos de vários conselhos [municipais] e, principalmente, o mais antigo, que é o de Ação Social, um conselho que [é importante] para a gente. Para a gente adquirir o que nós trazemos hoje para o município, nós precisamos muito dos conselhos e, graças a Deus, nós temos temos grandes aprovações e os conselhos nos apoiam, principalmente o de Ação Social pra que isso aconteça. A Associação nos dá muita alegria, muito amor, carisma, a unificação. Você sabe que lutar com pessoas não é tão fácil, mas para a Associação Café com Arte, [isso] não é problema, é solução. Sempre procuramos nos unir e trazer o melhor, levando oficinas [de artesanato] para as escolas, levando oficinas pra Casa das Juventudes. E, para aqueles que chegam aqui e dizem "não sou daqui", "vim morar aqui", e hoje precisa estar numa associação, seja bem-vinda. Esse é o nosso afeto com toda a população. Adoro trabalhar com a comunidade e amo o que faço.
Lúcia Xavier: Quantas pessoas fazem parte da Associação Café com Arte, hoje?
Fátima Belém: Diretamente, nós temos 26 associadas mulheres e três homens. E temos os indiretos. Eles entram, aprendem, uns ficam inseridos em fazer oficina, outros não, procuram outro meio de trabalho lá fora. Isso é um direito de cada um. Nós estamos na democracia e ela tem que funcionar. Adoro políticas públicas, sabendo que é difícil, não sei se vou alcançá-las, mas luto e batalho por ela.
Lúcia Xavier: Fafá, você falou em política pública, eu vou perguntar: tem pretensão de concorrer a algum cargo político no futuro?
Fátima Belém: Jamais! Esse não é meu perfil. Poderia ser, se as condições financeiras e a confiança [de obter boa votação] fosse maior. Mas, lhe sou franca, gosto da realidade, não vou. Não vou concorrer vaga nenhuma [na carreira política]. Minhas vagas que eu concorro é uma cadeira na Secretaria de Cultura do Estado, concorro sim; políticas públicas da Secretaria de Cultura, concorro sim; Conselhos, concorro sim; Viagens para vamos lutar por uma vaga no Conselho da Mulher, como vou agora para Brasília, luto sim. Mas, política partidária, voto e respeito, mas não tenho pretensão alguma.
Lúcia Xavier: Semana passada você participou de um congresso em Natal. Por favor, fale desse processo de participação no congresso.
Fátima Belém: Isso aí é uma luta muito antiga. Eu, como Café com Arte, nós sempre tivemos uma alta participação nos congressos, que é o Contrarte (Congresso Nacional de Trabalhadores Artesãos), e essa luta nossa está bem nova, mas vamos falar no grandioso Mestre Vitalino, que não conseguiu. Vamos falar dos muitos outros que não conseguiram, dos vários segmentos que não entravam no Congresso e, hoje, através de muita luta, muita luta mesmo, já fomos a Brasília, já fomos a Belém do Pará, Rio de Janeiro. Perdi a de Espírito Santo por motivo justo, de doença. Mas participei já do quinto congresso que foi, agora, esse de Natal. Um congresso que era tipo assim: nós gritávamos que queríamos que sancionasse já a nossa lei [regulamentação da profissão do artesão]. Nós estávamos lá realmente numa luta, uma luta acirrada mesmo. Queremos sim. Por quê? Porque nós estamos assim [sem profissão reconhecida]. Não é o meu caso hoje [de usufruir tanto das conquistas], Lúcia, porque hoje [os benefícios da lei sancionada] são para nossos associados, para meus filhos, para os netos dos associados. Minha preocupação é essa [com eles] porque já estou quase me aposentando. Mas ainda vou ter o orgulho de ter o carimbo na minha Carteira Profissional e me aposentar como artesã. Tenho outras, como você falou no início da [entrevista], outras ocupações, mas o que mais eu senti meu perfil, eu vou me orgulhar estar com minha carteira carimbada. Foi uma luta, muitos empecilhos. Mas graças a Deus, a gente pedia auxílio a um, a outro, aos governantes, e a luta foi grande, mas graças a Deus a presidenta [Dilma Rousseff] sancionou a nossa lei e hoje nós somos [artesãos de] profissão, e de antemão já vou dizendo que nós vamos ter nossa primeira conferência nacional em Brasília, já está tudo sendo articulado. Vamos ter sim, uma comemoração nossa, a nível de Brasil, e se Deus quiser estarei lá, agradecendo ao nosso prefeito Lourival Simões, que sempre nos apoiou nesse movimento, e agora, ultimamente, nos levou, enviou carro, levando, trazendo, para participar desse evento que foi muito valioso. Mesmo assim, lá ainda continuava aperreando ele, pedindo força, e foi muito viável. Agradeço às minhas meninas [associadas da Café com Arte] que me acompanharam, meninas que não conheciam o movimento, que foi Júcia e Paula, que foram substituindo outras que não puderam comparecer. Como delegada, eu tenho o maior orgulho de ser delegada do Contrarte.
Lúcia Xavier: Você viajou e, na volta você passou em Recife pra fazer o levantamento dos projetos [da Café com Arte].
Fátima Belém: Sim, fui visitar a Fundarpe, onde nós estávamos em trâmite com nosso projeto. Chegando lá nós tivemos a surpresa da grande Teca Carlos nos dizer que naquele dia (quinta, 22) seria o dia em que estava dando o resultado final da segunda fase dos nossos projetos. Eu digo "Oh, meu Deus! E vai ser que horas?" "Duas horas da tarde". Graças a Deus, nosso motorista estava lá esperando, mas ele teve a paciência de esperar. Eu disse "não, vou ter que participar". E é assim, Lúcia, quando você faz o projeto, que sai o resultado, diz assim "é feito ao vivo", aí você [em outra cidade] se pergunta "será que é verídico?" Então, pra mim [assistir] foi muito valioso, porque eu tinha essa dúvida. E realmente existe, é verdade, acontece, é muito bem feito, foi muito bom. Eu mesma pedi homenagem, pedi aplausos para a Café com Arte, porque quando você vê o nome... O primeiro projeto não saiu, que era um orgulho nosso e da nossa Primeira Dama, da [Secretaria de] Assistência Social, Anna Tereza, que sonhávamos na [volta da] Banda Alexandre Adolfo de Melo. Não foi possível, porque nós trabalhamos com a cultura, mas não entramos com música nem com bandas. Mas, mesmo assim, como sou insistente, estou mandando o recurso, tentando a gente recuperar o projeto. Se recuperar, é mais um que vai entrar. Mas nosso projeto Redes de Artesanato, Rede de Sustentabilidade foi um prazer, porque hoje nós temos um gargalo muito grande no Café com Arte. Chama-se aluguel. O aluguel é muito pesado, forte. Nós temos um outro local, colocamos o artesanato lá no Centro de Artesanato, mas ainda não suporta, porque são muitos associados, e assim nasceu, teoricamente, o nome. Hoje eu não digo que Café com Arte tem nome. Tem nome e renome. Ele é forte nacionalmente e ainda tem um pedacinho na Suíça. Então eu considero assim nossa associação e o orgulho. Então, quando eu cheguei lá que me disseram, então eu disse, pronto, então foi tudo recheado, igual às tapiocas [da Tapiokinha da Fafá]. Recheado para o Café com Arte o mês de outubro. O mês de outubro foi muito bom, porque nós tivemos assim, um [retorno satisfatório] em cima do outro: o congresso, que foi valioso; depois veio a questão desse projeto [da Fundarpe] e ainda vamos concorrer pra ocupar uma cadeira no Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico de Pernambuco. Então essa é uma vaga, vamos ocupar essa cadeira para lutarmos pelo nosso Patrimônio. Somos sete, da Café com Arte, onde vai ser concorrida a vaga através de congressos, através de fóruns e seminários, pra ser tirada uma delegada. Também nós tivemos uma outra surpresa [este mês]. Nós vamos ocupar, na Cultura, uma cadeira para políticas públicas.
Lúcia Xavier: Em nível de Estado?
Fátima Belém: Em nível de Estado. Inclusive vai haver, em Serra Talhada, três dias também de congresso, onde a gente vai já começando a trabalhar a questão dos fóruns. Vão fazer um fórum pra gente já se articular como vamos ocupar essa cadeira. Pra gente ter aquela ousadia - já tenho bastante -, mas a gente poder gritar, um grito saudável, "eu quero", "nós queremos", "nós podemos". O "eu quero" não existe aqui no Café com Arte. É nós queremos, nós podemos e vamos lá, realizar essa conquista.
Lúcia Xavier: Fátima, por que é que seus projetos são tão bem sucedidos? Onde é que você capricha, que você consegue trazê-los pra cá?
Fátima Belém: Essa é a preocupação e a pergunta que muitos me fazem. Muita gente me faz. Então, é assim: se você vai à frente, porque atrás vem outro, você tem a preocupação, você consegue. Agora, é [preciso ter] muita insistência. Eu durmo com a Funarte, eu durmo com a Fundarpe, eu durmo com o Funcultura; eu durmo com o MinC, o ministério, porque é daí [que saem as oportunidades]. E, ontem [domingo, 25], a ousadia foi tanta, que eu ainda fiz a inscrição na Unesco. Ontem, aproximadamente às duas horas da manhã, eu estava fazendo uma inscrição na Unesco. Não sou internauta, mas o que eu posso. Não sei de tudo, minha filha [Patrícia] me ajuda. Ontem terminamos um projeto excelente pra Petrolândia, que foi o projeto Saber Ler. O pessoal está muito preocupado, eu sei que é muito bom a gente se preocupar com a tecnologia, mas hoje é a criança no celular, a criança no computador, e acaba esquecendo o que existe. Quem não lê é pior do que quem não sabe ler. Portanto, eu achei muito importante, tive essa preocupação. Por que nosso objetivo do Café com Arte ter essa preocupação? Porque nós vamos fazer as oficinas nas escolas e lá nós vimos a dificuldade da criança ler, da criança ter a preocupação na leitura. Então, ontem nós fizemos um projeto, que é no valor de trinta mil. Se contemplado, nós colocamos a Quadra 02, que é de Zelinha [Maria Zélia]. Fiz junto esse projeto com a Secretária de Ação Social, Anna Tereza, onde ela lembrou de Zélia. E Zélia, que trabalhou em biblioteca, entrou nesse nosso projeto, que é pra gente trazer três bibliotecas itinerantes para Petrolândia. Então, vai ser um para a Quadra 02, que é onde mora Zélia, e beneficiar a Quadra, que ela teve a preocupação de estar conosco. Outra da Quadra 13 e outra do Bairro Nova Esperança, onde nós vamos entrar. Já pedi ajuda, inclusive, já antecipo, à Casa das Juventudes, porque lá eu coloquei o nosso objetivo na leitura e a leitura tem que ser aprender brincando. Então, nós vamos levar teatro, nós vamos levar a turma da Casa das Juventudes com peças, tudo em cima do por que ler é importante para a nossa vida, a preocupação da leitura. Porque hoje se eu também não me preocupar em ler, como é que eu vou adquirir os conhecimentos? Só na internet, só na internet, não. A criança tem que ler. A minha neta, inclusive, nós já fizemos o cantinho dela, da leitura, pra saber a importância. Eu acho que antigamente a leitura era muito mais importante do que hoje. O pessoal está muito esquecendo desse detalhe. Então é assim Lúcia: a gente tem que procurar. Eu não vou pedir. Eu comecei com o nosso saudoso ali [aponta para um foto] Eduardo Campos, quando ele disse assim, a primeira vez que eu procurei Eduardo. Realmente eu fui para pedir e ele me fez uma pergunta que não sai nunca da minha mente: "Artesã, sua cuia veio vazia, veio cheia ou veio pela metade?" Eu tive vergonha de dizer que ela veio seca, eu disse "não, pela metade", porque a gente já tinha pelo menos conhecimento do que era artesão e artesanato. E eu disse: "Pela metade". "Então, vamos completar", foi o que ele me respondeu. "Vamos completar". E a partir daí foi um elo muito grande entre nós dois, entre a família, pra que a gente conseguisse - não através dele - mas pra gente conseguir entrar em editais, participei muito de oficinas lá em Recife. Não tinha esse negócio de "não posso porque não tenho dinheiro", a gente dava um jeito. E fiquei curiosa de colocar [projetos]. Menina, eu colocava projetos constantemente e não aprovava. Demorou, não foi fácil. Mas, assim, a partir do momento que entrou o primeiro, porque a gente a preocupação de dizer assim "não, entra", me juntava com várias pessoas daqui, a gente não conseguia, porque realmente é difícil. Não é fácil você elaborar o projeto. E conseguimos um consultor. Um consultor que ele veio fazer um curso aqui, de oficina de elaboração de projeto. Eu, como sempre ousada, procurei ele particular, e ele corrige nossos projetos. Agora, hoje, alguns projetos a gente já não pede mais [para corrigir]. O de ontem mesmo a gente já não pediu. Ele só deu olhada e disse "está ótimo". Então, a partir do momento em que ele diz "tá ótimo", eu posso enviar o projeto. Acontece, algum erro, às vezes. O Café com Arte vai fazer 11 anos em novembro. Durante 11 anos, esse é o décimo quinto projeto. Eu mesma aplaudo, porque realmente é bem merecido, e assim, eu procuro a nossa cidade. Por exemplo, tem pessoas que me perguntam: "você conseguiu projeto pra Jatobá" [cidade vizinha]. Não, eu não consegui o projeto, eu fiz o projeto, pessoas. Eu procurei a cidade toda, era para o carnaval: bandas, quem tivesse banda, quem cantasse. Em minha cidade, procurei as pessoas. "Levo já", "levo amanhã", nunca apareceram. Mas, aí aparece Gean Ramos, que hoje me agradece muito. Ele até ganhou também também um projeto. Gean me pediu encarecidamente que eu desse esse apoio a ele e a outra amiga dele, Camile Yasmin, porque eles não tinham como colocar projeto, porque não tinham associação, não tinham vínculo pra colocar banda. Todos ganharam. Foi quarenta mil reais. Teve a comissão pra associação, claro. Mas até hoje eles estão lá, inseridos dentro do Funcultura e ele me agradece muito, muito mesmo. Ele hoje anda o Brasil todo, fazendo os shows dele, graças a Deus. A gente está aqui pra ajudar uns aos outros, somar.
Lúcia Xavier: Crescer, fazendo crescer.
Fátima Belém: É, justamente.
Lúcia Xavier: Fátima, para implementar todos esses projetos é preciso ter um planejamento. Qual é o apoio que você recebe, quais as instituições que você procura?
Fátima Belém: Existe sim, tem que ter apoio. O nosso apoio forte é o Sebrae. O Sebrae é nosso amigo parceiro, certo em tudo. Nós já fomos até classificados no Sebrae, no [programa] Sebraetec, várias vezes. Inclusive, vai começar agora uma oficina, esse mês de novembro, pelo Sebraetec, que é ainda sobre o couro da tilápia, porque esse projeto da tilápia ele não tem muito andado por conta das condições [financeiras]. Ele é um projeto que encarece um pouco, então nós precisamos de apoio, de ajuda. Hoje, nós pedimos apoio ao Sebrae, e ele mais uma vez [atendeu]. Todo ano eles têm uma oficina com a gente. Até 2017, eles estão apoiando o Café com Arte. Nós vamos ter agora essa oficina, onde está vindo técnicos de Campina Grande, repassar pra gente umas novas técnicas para a tilápia. A tilápia é um produto excelente, de cunho cultural da nossa cidade, criatórios e mais criatórios, é sustentabilidade sim. Mas é um produto que encarece. Encarece na oficina, ele encarece em tudo. Então, aí a gente precisa realmente apoio. Estamos com outros apoios em emendas, com pessoas envolvidas na política que vai nos ajudar. E tenho também o apoio do PAB, que é o Programa de Artesanato Brasileiro, através agora de Isabel Gonçalves. Temos o PAPE, que é o Programa de Artesanato Pernambucano, que também nos apoia. Temos o Estado, o Governo do Estado que já nos ajuda com esses programas que já falei. Enfim, nossa Prefeitura, nosso prefeito que não nos deixa de mão, momento nenhum. Também não fico direto aperreando ele, mas num momento que eu preciso, graças a Deus, ele tem nos ajudado bastante.
Lúcia Xavier: Voltando um pouco à pergunta anterior, sobre a cultura, quando você falou sobre a cultura. Já pensou em transformar aqui [a Café com Arte] também em um Ponto de Cultura?
Fátima Belém: É um sonho. Mas o que falta é o cunho cultural, que é a tilápia. Assim que ela estiver em vigor, bombando, vamos ter sim um Ponto de Cultura. Esse é meu sonho, uma abertura ali, bem grande. Já temos Ponto de Cultura em Petrolândia, com os indígenas, mas eu me inquieto porque eu não estou vendo ainda o que eu queria ver, o que eu vejo em outras cidades que têm Ponto de Cultura. Então, meu sonho é que, quando o peixe tiver bombando, porque só entra num Ponto de Cultura artesanatos de cunho cultural. Então, quando esse projeto tiver bombando, aí eu sei que nós vamos ousar, eu quero ver a entrada da cidade com um outdoor bem grande: "Petrolândia tem Ponto de Cultura - Café com Arte". Ponto de Cultura é um sonho de muitos anos. Eu fiz esse projeto, fui reprovada, e Deus vai - com fé em Jesus - nos ajudar pra que esse [próximo projeto] vai ser abençoado, um dia a gente realizar, porque tudo tem seu tempo, Lúcia. Não adianta, tudo tem seu tempo, porque nós tivemos o benefício dos teares. Os teares deu e valeu, porque a tecelagem realmente é o carro forte da Café com Arte. Então nós temos agora esse novo projeto que saiu, "Redes de Artesanato, Rede de Sustentabilidade", vai ser confecção de redes e tapetes, pra sair daqui de Petrolândia, pra se saber que aqui nós temos. Realmente, não é muito, não é caminhões nem carretas. Mas, graças a Deus, o que sai vende bem direitinho. Hoje também uma preocupação nossa é a questão da comercialização, que a gente está pedindo socorro e apoio aos governantes, porque se a gente for depender da venda da cidade, é impossível. Agora, a fica correndo. Esse ano já tivemos duas associadas que foram para Ribeirão/PE, já participamos da AgriNordeste, agora vai ter uma feira em Juazeiro/BA, onde nós conhecemos o centro de artesanato de lá, que está dando esse apoio. Vamos sim, através do Sebrae, nosso amigo e parceiro. Depois nós temos a Fenahall, que vai ser agora em janeiro, e a nossa grande e prioritária que é a Fenearte, que vai ser em julho, onde já fizemos as inscrições. Então é assim, a gente participa e o que acontece aqui no município, pode até dizer assim o "Café com Arte está em tudo". O Café com Arte precisa estar em tudo, precisa porque você vê ali [sobre um armário, fotos e objetos de participação em eventos], Semana do Bebê ele trouxe pra gente 10 pontos em um projeto. Ontem, pra inscrição da Unesco, isso aí foi show. Tive que vir aqui tirar foto, com minha menina, que a gente participa da Unesco. Então, a gente trazer para Petrolândia, um Criança Esperança é um outro sonho que eu quero que seja realizado um dia, pra gente trabalhar com as crianças, como eu coloquei ontem no pequeno projeto, na inscrição que eu fiz, a gente quer a colaboração deles, do Criança Esperança, num pequeno projeto, porque a gente ainda se preocupa e a gente ainda vê no município, ainda me entristece, uma criança com uma carroça na rua. Sei que o poder do município se preocupa, sei que o conselho está em cima, mas se a gente tiver um programa diferenciado, nós temos direito. Então, o que é que Petrolândia não tem, que a Unesco, ontem, na ficha eu coloquei? o circo. O circo ele traz, eles mandam tudo, então eles fazem, é muito bom. Um projeto rico, pequeno, não é tão caro pra eles, caro pra gente, Café com Arte. Enfim, eis minha vida, minha vida é assim, sonhando - como você disse - com o social.
Lúcia Xavier: Fátima, sobre essa falta de recursos, há outras fontes que vocês possam se utilizar, sem depender apenas das vendas?
Fátima Belém: Tem sim. Hoje, é difícil, não é tão fácil. Porque cada pessoa tem sua maneira de como trabalhar o financeiro, mas a dificuldade é grande pra um crédito. Não é todo mundo que está apto, naquele momento, pra se levantar um crédito. Mas nós temos aqui também um amigo parceiro, o Banco do Nordeste, nós temos muitos anos de Banco do Nordeste. Mas hoje o Governo do Estado, no tempo de Eduardo [Campos], deixou a AGEFEPE. A AGEFEPE é uma agência de fomento, não é banco. É uma agência de fomento e nós tentamos muito, nunca tínhamos conseguido, mas agora, depois dessa Fenearte... Eles fazem a pesquisa, foi feita a pesquisa pelos movimentos de estande e nós fomos uma associação que fomos sorteadas na animação e nas vendas, que graças a Deus nós tivemos umas vendas muito boas. E eu não finalizei só com o Café com Arte, fiz o convite a todas as outras associações, mas infelizmente só a Café com Arte se prontificou e foi até lá, e graças a Deus amanhã (27), já está saindo o nosso dinheiro para começarmos a trabalhar para a Fenearte. Isso é o intuito deles, é um juro de 0,5%. Inclusive tiramos fotos lá, quando fomos assinar. Eles vieram aqui, visitaram. Muito bom. Foi difícil a primeira vez, as exigências, a burocracia imensa, mas, a partir daí, quando a gente termina [de pagar] esse, a facilidade é imensa para os próximos.
Lúcia Xavier: Em todos os eventos do município, a Café com Arte está dentro. Fale-me então sobre o Outubro Rosa. Estou vendo que está tudo aqui enfeitado, tudo rosa, cheio de laços.
Fátima Belém: Nós não fazemos parte ainda do Conselho da Saúde, mas a gente abraça todas as causas do nosso município, porque tudo isso, pra quem faz projeto, é pontos a receber. É só você ter o anexo. Então eu encerro assim, agradecendo à Secretaria de Saúde, ao Hospital [Municipal Dr.] Francisco Simões [de Lima], que também já nos convidaram, às mulheres da Café com Arte, para passar um dia no hospital (olha aí o orgulho), fazendo tudo necessário para a saúde da mulher. Um checkupzinho, básico, mas que a Café com Arte fica muito lisonjeada, lógico, porque é mais uma participação. E agradecendo à Secretaria [de Saúde] por este momento de lembrar das artesãs, e foi assim um momento exato. Então, eu digo assim, outubro para o Café com Arte foi super recheado. Abençoado por Deus.
Lúcia Xavier: Fátima, na semana passada, você participou de uma reunião para discutir já a decoração da cidade para o final do ano.
Fátima Belém: Foi sim. Fomos convidados pela Secretaria de Ação Social para fazermos a ornamentação das praças, porque sempre, todo ano, não dá tempo. E foi combinado, assim um sonho de Socorro Simões, a mãe da ornamentação da cidade, ela sempre queria fazer uma coisa diferente, e está conseguindo. Então ela deixou a responsabilidade para cada equipe. E entrou artesãos, entrou gestão, entrou comunidade, nós estamos convidando o pessoal daquela Quadra [03, a que terá a praça ornamentada pela Café com Arte], pra que se insira e faça esse trabalho junto com a gente, porque vai ter premiações, vai, mas o que vale não é a premiação, o que vale é você participar. A premiação é importante sim, eu acho que é importante, mas o mais importante ainda é você estar participando e sabendo que você vai trabalhar com material reciclado, que isso sim, é sustentabilidade.
Lúcia Xavier: Quanto aos projetos da comunidade, neste ano, você tem em mente de quantos projetos a Café com Arte participou?
Fátima Belém: A gente sempre participa, pra juntar os projetos e juntar os programas. A gente participou do Natal Social, com as meninas aí vestidas de Papai Noel, fazendo animação junto ao município, no palco, deixando aquelas crianças felizes, onde tem a entrega [de presentes] que Socorro Simões. O Natal eu chamo o Natal Social dela, porque ela é orgulhosa em saber fazer esse Natal. Não sei se é promessa, mas acho muito interessante o desempenho dela, e a gente participa sempre desse Natal Social. Também participamos do carnaval. A gente participa sempre das oficinas do CRAS, que é um programa muito bom, volta à comunidade, uma equipe maravilhosa, que está de parabéns, trabalha muito bem. Nós também participamos do Chico do Bem, que o Chico do Bem é uma homenagem muito emocionante, onde a gente vai voluntário mesmo, a vontade é de ir. Perdi esse último, por motivo de doença, mas o próximo eu estarei lá junto. A gente faz uma oficina, a gente cria, a gente brinca, é um dia diferente e bem proveitoso. Então o Café com Arte, gosta mesmo de participar, e participar em tudo do nosso município é um orgulho. Ainda tem muita coisa que a gente sonha, sonha com muita coisa, mas devagar a gente chega lá, porque Brasília é bem aí, não é obrigado que a gente se jogue só pra gestão [municipal] não. A gestão faz o apoio, faz a contrapartida, tem o maior prazer, mas vamos correr lá na frente e pegar lá onde tem, porque tem. Se você for procurar, tem dinheiro sim e muito. Você vê agora: a Fundarpe é quanto? R$ 3 milhões, onde vai ser agora pago [liberado] R$ 22 milhões, de projetos que já aconteceram e que vão acontecer. E a gente tem que ir lá procurar. Eu saio em Brasília bem assim, parecendo uma doidinha, como você diz a "pequena notável", cada enorme. Quando eu passo naquela esteira, que passa de um lado pra outro do Congresso, eu tenho que ficar ali caladinha, querendo rir, e aqueles tudinho de gravata, paletó, e eu no meio deles. Aí cheguei no Ministério: "sou de Petrolândia, do Sertão sim, quero saber onde é que tem dinheiro aqui pra artesanato". Mas agora nós somos lei, temos profissão, vamos ter agora um endereço único, só pra gente. Mas será que eu vou me conter com esse endereço único? Acho difícil, porque esse daí eu sabendo que é lei, ele vai ter que ter, mas os outros a gente ainda vai ter que permanecer, porque está lá, o dinheiro é nosso, e a gente tem que buscar e trazer aqui pra o nosso município.
Lúcia Xavier: Fátima, então diante do que você me disse, você se sente já reconhecida.
Fátima Belém: Com certeza! Muito conhecida, muito articulada e sempre articulando. É tanto que a sanção da nossa lei foi agora e quarta-feira [dia 28], nossa artesã, vereadora, fundadora com a gente da Café com Arte, está levando a Moção da satisfação que ela está [sentindo] com a liberação da nossa lei, Dona Santa. E quarta-feira os artesãos e artesãs estejam convidados a participarem da sessão [da Câmara Municipal] que ela é nossa.
Redação do Blog de Assis Ramalho