Manari é o único município, até o momento, sem casos confirmados da Covid-19 em Pernambuco (Créditos das fotos: Andre Julio Lacerda)
Manari é o único município, até o momento, sem casos confirmados da Covid-19 em Pernambuco(Créditos das fotos: Andre Julio Lacerda)
Pernambuco só tem uma cidade livre da Covid-19. Decorridos 103 dias após o primeiro caso no Recife, a atualização do Painel da pandemia mostra que, praticamente, todos os municípios pernambucanos já têm casos confirmados. Essa conclusão foi possível graças a pesquisa junto aos 12 últimos municípios que ainda não constavam como contaminados nos Informes Epidemiológicos da Secretaria de Saúde de Pernambuco. O mapa da doença é constantemente atualizado pelos pesquisadores do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados para a Pesquisa Social (Cieg) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). O mesmo mostra a situação de cada município do estado e pode ser acessado no site: www.fundaj.gov.br, na aba “Mapeamento da Covid-19 em Pernambuco”.
“Foram necessários exatos 103 dias, pouco mais de 3 meses, desde o surgimento do primeiro caso em Recife, no dia 12 de março, para a pandemia atingir praticamente todos os municípios de Pernambuco, o que ocorreu no dia 22 de junho. As pandemias fazem parte da história da humanidade, sendo responsáveis por importantes mudanças no processo civilizatório, mas nunca sua difusão no território ocorreu de maneira tão veloz”, destacou o pesquisador do Cieg da Fundaj e coordenador responsável pelo Painel, Neison Freire.
Devido a considerável defasagem entre os dados publicados pela SES-PE e os das prefeituras pernambucanas, os pesquisadores resolveram investigar com maior detalhe os casos de Covid-19. Eles mapearam e analisaram a situação específica dos 12 municípios que ainda apareciam como não contaminados nos dados estaduais. Após a elaboração do mapa, procederam para a atualização do número de casos confirmados a partir da verificação nos sites das respectivas prefeituras. Desse levantamento constatou-se que, dos 12 municípios, 10 já tinham casos confirmados. Restavam, portanto, apenas dois municípios não contaminados.
Para esses dois últimos municípios, Manari (21.434 habitantes) e Mirandiba (15.390 habitantes), ambos no sertão do estado, os pesquisadores buscaram informações por telefone junto às respectivas prefeituras e secretarias municipais de saúde nesta segunda-feira (22). Desses contatos, constatou-se, então, que Manari tem casos sob investigação e Mirandiba já apresenta uma morte suspeita pelo Covid-19. Portanto, Manari é o único município, até o momento, sem casos confirmados da Covid-19 em Pernambuco.
A última atualização do mapeamento da Fundaj mostra como a pandemia se disseminou em quase todos os 185 municípios pernambucanos em pouco mais de 3 meses. Os primeiros casos confirmados de Covid-19 em Pernambuco ocorreram no dia 12 março. A partir do dia 17 do mesmo mês, a Fundaj começou a mapear os casos confirmados residentes no estado, com atualização constante desde então. Naquela data o mapa já apontava 16 casos. Esse número subiu para 82 no dia 31 de março, pulou para 6.860 em 30 de abril e subiu novamente para 34.401 no final de maio (31.05). Assim, atingiu 52.025 casos confirmados e 4.234 óbitos, nesta segunda-feira (22).
“Convém registrar que, desde o início desse estudo, os pesquisadores consideraram apenas os casos confirmados que residem no estado, descontando dos informes aqueles oriundos de outros estados e países, além dos que têm origem ignorada”, afirmou Neison.
Os últimos municípios a serem contaminados pela Covid-19 no estado foram: Belém de Maria, Calçado, Dormentes, Granito, Iati, Moreilândia, Santa Cruz da Baixa Verde, Santa Filomena, Santa Maria da Boa Vista e Solidão e Mirandiba. Os mesmos possuem populações que variam de 6.007 habitantes (Solidão) até 41.931 habitantes (Santa Maria da Boa Vista). Quando comparados aos demais municípios do estado,todos eles são de alta vulnerabilidade social. Isso em relação aos indicadores de renda, acesso a água e esgoto, e a inadequação de coleta de lixo domiciliar.
Análise espaço-temporal da pandemia
Analisando o mapeamento temporal do avanço no estado, os pesquisadores concluíram que a pandemia apresentou, até o momento, quatro fases distintas. A primeira delas foi no início da pandemia no estado e se caracterizou por uma difusão do novo coronavírus de forma mais lenta e gradual, localizando-se, principalmente, nos bairros de classes média e alta da capital, “os chamados ‘casos importados’, devido ao fato de que inicialmente foram confirmados casos em passageiros vindos do exterior, especialmente da Itália”, pontuou Neison
A segunda fase, ocorrida entre meados de março e início de abril, caracterizou-se por uma maior velocidade de difusão do vírus, marcado pelos casos agora chamados de “transmissão comunitária”. Nesse momento, a pandemia atingiu toda a Região Metropolitana do Recife (RMR). A partir da segunda quinzena de abril a pandemia conquistou o agreste do estado e as matas norte e sul, tomando os eixos rodoviários como vetores de transmissão (especialmente as BR-232 e BR-101), caracterizando-se como a terceira fase da pandemia em Pernambuco.
A quarta e última fase observada até o momento se refere ao avanço da pandemia em direção às pequenas e médias cidades do semiárido pernambucano. Nesse aspecto, a Nota Técnica, publicada pelo Cieg no dia 26 de maio, mapeou e analisou as 20 últimas cidades ainda não contaminadas naquela data, a maioria localizada no sertão. Essas cidades se caracterizavam pelo isolamento geográfico, baixa densidade populacional e adoção de medidas preventivas, tais como: a instalação de barreiras sanitárias nas entradas das cidades e os decretos de isolamento social e fechamento de comércio não essencial e escolas. De fato, estas foram as cidades mais resistentes à pandemia no estado.
Os tempos de disseminação das pandemias
Se a última pandemia antes da Covid-19 (a gripe espanhola) levou pouco mais de um ano para se espalhar por todo o planeta, em Pernambuco, por exemplo, foram necessários apenas 3 meses para o coronavírus atingir todo o estado, numa primeira onda. Isso aconteceu apesar de todas as ações dos governos, tanto estaduais como municipais, para retardar essa difusão.
“Acredita-se que sem essas intervenções, certamente esse tempo teria sido mais curto. Por outro lado, caso as medidas tivessem sido mais rigorosas e a adesão maior, certamente esse tempo de difusão ainda estaria se alongando no estado. Para entender como isso ocorreu de forma tão rápida, torna-se necessário compreender as características gerais de como as pessoas e grupos sociais se relacionam entre si e, também, entre outras cidades e países”, afirmou ainda Neison.
Convém alertar que ainda permanece desconhecido, na pandemia da Covid-19, qual será o seu ápice de casos e óbitos. Bem como, qual a probabilidade de ocorrerem novas e sucessivas ondas de contágio no território e, consequentemente, quais seriam suas intensidades em termos de coeficientes de contágio e letalidade. Portanto, prevenir ainda é necessário e possível.
Por Thaís Caroline Mendonça Barbosa
Assessoria de Comunicação Fundação Joaquim Nabuco/Fundaj