O presidente Jair Bolsonaro comentou nesta quinta-feira (31) a fala do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), sobre a possibilidade de um novo AI-5 caso a esquerda radicalize. O presidente lamentou a declaração de Eduardo e disse que quem fala em AI-5 "está sonhando".
A possibilidade de um novo AI-5 foi mencionada por Eduardo em entrevista para a jornalista Leda Nagle, divulgada nesta quinta no canal dela no YouTube. A fala gerou reações contrárias de entidades da sociedade civil e de políticos.
O Ato Institucional número 5 (AI-5), editado em 1968, durante a ditadura militar, é considerado a medida mais repressora do período. Resultou na cassação mandatos políticos e suspensão de garantias constitucionais.
Ao deixar a residência oficial do Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro foi questionado se concorda com um novo AI-5 e se a possibilidade está em estudo.
"O AI-5 já existiu no passado, em outra Constituição, não existe mais. Esquece. Vai acabar a entrevista aqui. Cobrem deles. Quem quer que seja que fale em AI-5, está sonhando. Está sonhando! Não quero nem que dê notícia nesse sentido aí", respondeu o presidente.
Em seguida, os jornalistas perguntaram se o presidente vai cobrar o filho por causa da declaração sobre o AI-5.
"Cobre você dele. Ele é independente. Tem 35 anos, se não me engano [...] Se ele falou isso, que eu não estou sabendo, lamento. Lamento muito", afirmou Bolsonaro.
Entrevista
Na entrevista que gerou a declaração sobre o AI-5, Eduardo Bolsonaro foi questionado sobre a opinião dele a respeito da situação política em países da América Latina, como o Chile (que passa por uma onda de manifestações de rua) e a Argentina (onde o peronismo ganhou as eleições presidenciais no último domingo, 28).
Durante a resposta, o deputado começou a citar o que, para ele, são atitudes equivocadas de partidos de esquerda.
"Vai chegar um momento em que a situação vai ser igual ao final dos anos 1960 no Brasil, quando sequestravam aeronaves, quando se sequestravam, executavam-se grandes autoridades, cônsules, embaixadores, execução de policiais, de militares”, disse Eduardo.
Ele continuou: "Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E uma resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito como ocorreu na Itália, alguma resposta vai ter que ser dada, porque é uma guerra assimétrica, não é uma guerra onde você tá vendo seu oponente do outro lado e você tem que aniquilá-lo, como acontece nas guerras militares. É um inimigo interno, de difícil identificação aqui dentro do país. Espero que não chegue a esse ponto né? Vamos temos que ficar atentos".
Por Roniara Castilhos, TV Globo — Brasília