Lorenza Maria Silva de Pinho — Foto: Reprodução/Facebook
Polícia Civil fez busca e apreensão em casa e prendeu promotor de Justiça André Luís Garcia de Pinho, na manhã deste domingo (4), após morte de sua mulher Lorenza Maria Silva de Pinho.
A mulher morreu na última sexta-feira (2), no bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte. As circunstâncias da morte são investigadas pela Polícia Civil.
Uma vizinha contou que a rua chegou a ficar fechada nesta manhã, por cerca de meia hora, para os trabalhos dos investigadores. No início da tarde, o promotor saiu do apartamento acompanhado de policiais.
Em conversa com a TV Globo às 15h deste domingo, o advogado Sérgio Leonardo, que faz a defesa do promotor, confirmou que André Luís Garcia de Pinho foi preso temporariamente, por 30 dias. Ele foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte e posteriormente apresentado à Procuradoria-Geral do Ministério Público de Minas Gerais.
Segundo Sérgio Leonardo, o promotor será ouvido na Procuradoria-Geral nos próximos dias.
"Tem um procedimento criminal investigatório instaurado para apurar a prática de crime de feminícidio, por isso teve sua prisão temporária decretada, as medidas cautelares. Ele será ouvido para poder esclarecer tudo o que aconteceu", explicou o advogado de defesa.
A Polícia Civil e Ministério Público não comentaram sobre a prisão.
G1 tenta contato com familiares de Lorenza.
Promotor de Justiça André Luís Garcia de Pinho deixou apartamento no início desta tarde — Foto: Reprodução/TV Globo
De acordo com a polícia, os exames de necropsia foram concluídos na madrugada deste sábado (3), no Instituto Médico-Legal (IML) Doutor André Roquette. Os laudos periciais definitivos têm o prazo de até 30 dias para serem concluídos. Na manhã deste domingo, o corpo ainda não havia sido liberado.
Lorenza tinha 41 anos, cinco filhos e era casada com André Luís Garcia de Pinho, promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Ao longo dos últimos anos, a mulher e o marido foram alvo de diversos ataques e ameaças (leia mais abaixo).
A Polícia Civil afirmou que as apurações são feitas em conjunto com o Ministério Público. Disse ainda que os exames de necropsia foram "acompanhados das autoridades competentes, e [que] todos os elementos de investigação estão sendo compartilhados com o MPMG".
Neste domingo, as duas instituições divulgaram uma nota conjunta confirmando que as diligências foram realizadas para apurar fatos relacionados à morte (veja a íntegra no final desta reportagem).
Ainda neste domingo, o procurador-geral de Justiça de Minas, Jarbas Soares, afirmou, nas redes sociais, que abriu investigação para apurar a morte de Lorenza.
"Medidas e diligências foram deferidas pelo TJMG na virada da noite. Amanhã, avaliaremos os fatos e as provas. Agradeço a Polícia Civil pelo apoio", disse.
"Foram cumpridas decisões proferidas pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG). Em função da decretação de segredo de Justiça, no momento não serão fornecidos mais detalhes", diz o texto.
Na noite de sexta-feira, o promotor esteve no IML, mas não quis falar com a imprensa. Já uma amiga de Lorenza, que também não quis gravar entrevista, contou à equipe da TV Globo que a informação que recebeu é de que a mulher do promotor passou mal, um médico foi chamado, mas, quando chegou, ela já não tinha mais pulso.
Um boletim de ocorrência registrado nesta sexta-feira informa que o corpo chegou a ser levado para uma funerária da capital, mas, por determinação do delegado Alexandre Oliveira da Fonseca, foi encaminhado para o IML para que a causa da morte fosse apurada.
Na agenda do cemitério Parque Renascer, na Região Metropolitana, a cerimônia de cremação de Lorenza chegou a ser prevista para as 14h30 deste sábado (3). Mas, segundo funcionários, neste sábado, não havia nova previsão.
O promotor André de Pinho — Foto: Pedro Ângelo/G1
Mensagens sobre morteA amiga de Lorenza também disse à equipe de reportagem que, no dia 11 de janeiro, recebeu uma mensagem, dizendo que a mulher do promotor havia morrido e seria velada no dia seguinte. Ela disse que ficou preocupada e que entrou em contato com Pinho.
Segundo a amiga, o promotor afirmou que o celular dele havia sido clonado, que a mensagem era falsa, e que Lorenza estava, inclusive, em choque com a notícia.
A mulher afirmou que agora uma nova mensagem foi recebida por outra amiga, também informando que a mulher do promotor havia morrido. Como ela não conseguiu contato com Pinho por telefone, foi até a casa do casal no bairro Buritis e confirmou que, dessa vez, a mensagem era verdadeira.
Atentados e ameaças
Carro de promotor foi incendiado em rua do bairro Serra, em Belo Horizonte, em 2013 — Foto: Reprodução TV Globo
Ao longo dos últimos anos, o G1 registrou ao menos cinco casos de ataques e ameaças envolvendo o casal.
Em 2016, de acordo com a Polícia Militar, Pinho e a mulher foram abordados e agredidos por dois homens perto de uma igreja evangélica, no bairro Vale do Sereno, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Em 2013, o promotor teve o carro incendiado no bairro Serra, na Região Centro-Sul da capital. O veículo estava estacionado e não havia ninguém dentro.
Em 2012, o carro de Pinho já havia sido alvo de tiros, no bairro Sagrada Família, na Região Leste. Ele e a mulher estavam a bordo, mas não se feriram, Na época, a polícia informou que o irmão do promotor era o suspeito do crime.
Pouco tempo antes, o homem, que é advogado, havia sido preso por suspeita de extorquir dinheiro do promotor e ameaçar Lorenza. De acordo com a polícia, ele estaria ameaçando o casal para que eles retirassem processos de ameaças e de crime contra a honra. Lorenza inclusive tinha uma medida protetiva contra o cunhado.
Em setembro de 2011, o carro de uma amiga de dela, que é promotora, apareceu pichado com dizeres ofensivos, afirmando que “a morte sempre está perto”.
O G1 tenta contato com o irmão do promotor.
Nota conjunta MPMG e Polícia Civil na íntegra"O Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG), por meio do Gabinete de Segurança e Inteligência (GSI) e do Centro de Apoio das Promotorias Criminais (Caocrim), e em conjunto com as Polícias Civil e Militar, realizaram diligências na manhã deste domingo, 4 de abril, dando seguimento às apurações relacionadas aos fatos ocorridos na sexta-feira, 2 de abril, envolvendo a morte da senhora Lorenza Maria Silva de Pinho, esposa do promotor de Justiça André Luis Garcia de Pinho.
Foram cumpridas decisões proferidas pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG). Em função da decretação de segredo de Justiça, no momento não serão fornecidos mais detalhes.
O MPMG lamenta a morte da senhora Lorenza Maria Silva de Pinho e se solidariza com os seus familiares e amigos".
Por Maria Lúcia Gontijo, Thaís Leocádio e Vladimir Vilaça, G1 Minas / TV Globo — Belo Horizonte