O miliciano Adriano da Nóbrega morto em ação policial na cidade de Esplanada foi baleado com dois tiros e teve um "tempo de sobrevida", segundo informações do diretor geral do Instituto Médico Legal (IML) de Salvador, Mário Câmara, e o médico perito do Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Alagoinhas Alexandre Silva.
“Os sinais que nós encontramos confirmam, sim, um confronto policial”, disse o diretor geral do IML de Salvador.
Mário Câmara e Alexandre Silva participaram de uma entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira (14). Segundo o médico perito, que analisou a necropsia do miliciano, em Alagoinhas, a hipótese de terceiro tiro foi descartada.
"Essa hipótese de terceiro tiro no corpo de Adriano está descartada, porque só houve dois tiros, só houve dois disparos de arma de fogo. O suposto terceiro disparo na verdade é uma continuação do disparo que veio do tórax embaixo, que ele cruzou o pescoço, ele saiu pela fúcula, passou raspando pelo pescoço e houve uma reentrada no tórax do lado esquerdo", explicou Alexandre Silva.
Alexandre Silva também disse que Adriano da Nóbrega não morreu na hora, mas já deu entrada no hospital da região morto.
“É possível dizer que ele teve algum tempo de sobrevida. Não sei dizer exatamente quanto tempo. O que eu tive de informação inclusive, quando recebi as vias para fazer a necropsia, eu tive a informação prescrita da médica que atendeu no hospital, que ele já tinha chegado morto”, contou.
De acordo com o médico perito, não foi encontrada marcas de tortura no corpo do miliciano. “Não encontrei marca de tortura. O corpo não tem nada que eu possa dizer que ele tenha sido torturado”.
Investigações na Bahia
As investigações da Polícia Civil da Bahia apontam que Adriano da Nóbrega já vinha visitando a Bahia há cerca de dois a três anos.
"A gente ainda não tem uma atuação mais direta ou confirmada, mas a gente tem uma movimentação dele [Adriano] de forma continuada, visitas ao estado continuamente há cerca de dois, três anos", disse Marcelo Sansão, diretor do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco).
O delegado não informou o número exato das vezes que Adriano da Nóbrega esteve na Bahia, mas detalhou que a polícia quer saber qual a intenção dele em permanecer no estado. A polícia também investiga se Adriano está envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro e se o ex-capitão do Bope tinha interesse em estabelecer organização criminosa na Bahia.
A Polícia Civil também investiga se o miliciano sabia da operação e planejava fugir para o Rio de Janeiro. Segundo o delegado Marcelo Sansão, a polícia desconfia que, dois dias antes de ser morto, Adriano foi informado sobre a operação.
Adriano ainda estava na fazenda de Leandro Guimarães, em Esplanada, onde passou vários dias. Leandro é suspeito de ter dado suporte ao miliciano. Ele foi preso, mas acabou solto na última terça-feira (11), após pagamento de Fiança.
Leandro contou em depoimento que conheceu o miliciano nas vaquejadas em Esplanada. Segundo Marcelo Sansão, ele disse à polícia que, na sexta-feira (7), o miliciano perguntou se ele conhecia alguém que poderia ajudar ele em uma viagem ao Rio de Janeiro.
No sábado (8), dia seguinte do pedido de Adriano, apenas a mulher e a filha dele deixaram a fazenda de Leandro, de carro, com destino ao Rio de Janeiro. Os motivos que levaram Adriano a ficar em Esplanada ainda estão sendo investigados, mas a polícia aponta que ainda no sábado, o ex-capitão do Bope decidiu mudar de esconderijo, conforme Leandro relatou à polícia em depoimento.
Adriano foi morto em um sítio que pertence ao vereador do PSL na Bahia, Gilsinho da Dedé, que em nota afirmou não conhecer Adriano. O G1 perguntou à SSP-BA se Gilsinho está sendo investigado, mas foi informado de que, por causa da Lei de Abuso de Autoridade, a informação não poderia ser passada. A polícia disse apenas que o vereador foi ouvido.
Caso
Foragido há mais de um ano, Adriano era alvo de mandado de prisão expedido em janeiro de 2019.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro passou a ser monitorado por equipes do órgão a partir de informações de que ele teria buscado esconderijo na Bahia. O advogado de Adriano disse que o miliciano temia ser alvo de uma "queima de arquivo".
Em nota, a SSP-BA afirmou que Adriano era suspeito de envolvimento no assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018. O nome do miliciano, no entanto, não consta do inquérito que investiga a morte da vereadora.
Segundo a Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro (Sepol), Adriano da Nóbrega era investigado havia um ano pelo setor de inteligência do órgão e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público. Ao longo desse período, os agentes monitoraram o ex-policial militar para localizá-lo.
Adriano era um dos denunciados da Operação Intocáveis, coordenada pelo Gaeco do Rio de Janeiro.
Quando ela foi deflagrada, em janeiro de 2019, uma força-tarefa do Ministério Público e da Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu cinco homens acusados de integrar milícia que atuava em grilagem de terra, agiotagem e pagamento de propina em Rio das Pedras e na Muzema, duas favelas de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio.
O ex-policial era um dos três integrantes considerados chefes do grupo e o único foragido daquela operação.