Dr. João Lopes, diretor do IBVASF, entrevistado por Assis Ramalho
No apagar das luzes de 2014, Petrolândia e região foram surpreendidas com a notícia da suspensão dos atendimentos do IBVASF (Instituto Beneficente Vale do São Francisco), entidade sucessora do Hospital São Thiago, sediada em Petrolândia, dirigida por Dr. João Lopes.
Em
nota, divulgada no dia 31 de dezembro, a direção do IBVASF justificou a interrupção do atendimento informando que os serviços prestados ao SUS não foram pagos, o que provocou um colapso financeiro na instituição, que não tem fins lucrativos.
Na tarde do último dia do ano, Assis Ramalho entrevistou Dr. João sobre o assunto. Confira abaixo a entrevista, na íntegra.
Assis Ramalho: Dr. João, gostaria que o senhor explicasse os motivos de o IBVASF estar deixando de atender pelo SUS, a partir desta quarta-feira, 31 de dezembro. O motivo é financeiro, o governo não está fazendo o repasse do dinheiro?
Dr. João Lopes: É verdade, o motivo é financeiro. Assis, o que eu posso afirmar para você é que nós fomos credenciados junto ao SUS desde julho de 2009, e durante todo esse tempo nunca houve um atraso aos serviços prestados pelo IBVASF, que antes era o Hospital São Thiago e que passou a ser IBVASF, que é uma entidade sem fins lucrativos. Mas o que acontece é que, de setembro (de 2014) pra cá, a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco deixou de repassar o dinheiro referente à nossa produção, por que a gente vive diretamente ligado a essa produção que a gente faz, com ressarcimento por parde do SUS, via Secretaria de Saúde de Pernambuco. Então, por exemplo, em setembro: do montante que a gente tinha direito eles só pagaram 40%. Em outubro foi pago somente em torno de 60%, em novembro e dezembro não foi pago nada. E aí nós estamos com uma dificuldade muito grande, por que o SUS tem um déficit entre 30% a 40% em relação ao que a gente produz. Por exemplo: se um procedimento custa R$ 10, ele é insuficiente pra pagar aquele procedimento, que inclui medicamentos, materiais, médicos, enfim, tudo. E isso já é constatado através do Sindhospe (Sindicato dos Hospitais de Pernambuco), que já está lutando para que haja essa correção, mas enquanto isso nós ficamos no gargalo, porque alega-se que é por falta de caixa, mas o fato é que durante todo esse tempo nós nunca tínhamos tido dificuldades para receber os repasses do SUS.
Assis Ramalho: Se o repasse está em atraso desde setembro, eu imagino que o senhor vinha injetando dinheiro do seu próprio bolso para que os trabalhos do IBVASF não parassem, verdade?
Dr. João Lopes: É verdade, Assis. Com todos esses atrasos de repasses, nós tivemos de buscar dinheiro de outras fontes para tentar manter, pelo menos, os salários dos funcionários em dia, apesar de não ter pago o 13º, mas os salários estão em dia, Mas, estamos devendo aos fornecedores, não aos pequenos, mas aos maiores fornecedores, e a gente tem feito de tudo para que isso não aconteça. A nossa reserva de dinheiro, em torno de mais de R$ 200 mil, já foi usada para tentar suprir os problemas, mas não foi o suficiente. Se a gente tivesse recebido o montante a que nós temos direito tudo estava resolvido, não estávamos devendo aos fornecedores, e os funcionários estavam todos felizes com o pagamento do 13º. Mas, infelizmente, no Brasil tem disso, O hospital (IBVASF) é de médio porte, mas a necessidade dele é grande aqui na região, enquanto a gente sabe que tem outros grandes por aí, que não são penalizados como a gente está sendo. Eu acho que eles pensam da seguinte maneira "Ah! Aquele hospital pode ficar escanteado, deixa pra lá, que depois a gente paga". Mas chegou ao ponto que a gente não tem mais força, não tem mais meios financeiros pra gente dar sequência ao hospital. Então, fomos forçados a fechar esse atendimento, temporariamente, a partir de hoje (quarta-feira, 31) até que seja pago o montante a que nós temos direito.
Assis Ramalho: O governo do Estado (No caso, João Lyra, que transferiu o cargo para Paulo Câmara no dia 1º) tem conhecimento do caso?
Dr. João Lopes: Sim, ele tem conhecimento. Eu falei primeiramente com o assessor dele, Rubens Júnior, e depois eu falei com o governador, Dr. João Lyra (no dia 29 de dezembro), por telefone. Ele disse que não tinha o que fazer e que ele tinha que ser comunicado antes. Mas eu tinha comunicado ao seu assessor, ao Chefe de Gabinete dele (Rubens Júnior), e ele prometeu que iria pagar tudo, e não pagou. E tem um outro detalhe, Assis, que eu vou falar pra você. Antes, na época de Eduardo Campos, nós tínhamos um incentivo (financeiro) dado por ele. Como ele sabia que era impossível a gente manter a estrutura do IBVASF em dia apenas com o dinheiro que entra pelo SUS, ele nos dava um incentivo, e esse incentivo, também de setembro pra cá, não foi pago. Então, como a gente vai conseguir pagar a funcionários, servidores etc? É claro que a gente não consegue. Com o pouco mais de R$ 200 mil que a gente tinha (em caixa), a gente fez alguns pagamentos, inclusive aos funcionários, com exceção do 13º. E a gente sente pelos nossos funcionários e entende a posição deles. Não é fácil a gente ver eles se reclamando, sem que a gente possa fazer nada. É lamentável. Mas, a gente fica na expectativa que Deus e os homens possam resolver as coisas.
Assis Ramalho: Se o governo pagar os atrasados, tudo volta ao normal?
Dr. João Lopes: Sim, quando eles quitarem a dívida conosco, os atendimentos pelo SUS voltam ao normal. Uma coisa muita importante, e que nós somos referência em toda essa região. Para que você tenha uma ideia, Assis, nos últimos dias faltou médico em tudo quanto é hospital da região, e nós estávamos funcionando. Do Natal pra cá, nós recebemos inúmeros pacientes encaminhados de Floresta, Belém de São Francisco, Cabrobó, Tacaratu, também daqui de Petrolândia, e em nenhum desses serviços tinha um cirurgião obstetra para fazer para fazer um parto cesariano de urgência, ou um outro procedimento de urgência, e todos eles eram encaminhados pra cá. E até o dia de hoje (31 de dezembro) nós resolvemos todos. Inclusive, hoje de manhã chegou uma paciente de Petrolândia para fazer uma cesariana de urgência, e a gente teve que fazer. Nesse período os médicos desaparecem, os serviços públicos deixam de existir e nós estávamos aqui, mas infelizmente a gente não tem mais condições de dar continuidade a esse trabalho.
Assis Ramalho: Agora, então, só resta esperar que o governador eleito Paulo Câmara se sensibilize com a situação e resolva o problema, por que o atual governador João Lira está passando o bastão para ele nesta quinta (1º).
Dr. João Lopes: Olha, eu acredito muito em Paulo Câmara, por que ele tem muito conhecimento dos nossos trabalhos, e eu acredito que quando ele assumir o governo (assumiu no dia 1º) as coisas tendem a se normalizar, porque eu gostaria muito de dar continuidade aos nossos trabalhos.
Assis Ramalho: O IBVASF deixando de atender pelo SUS, mais ou menos quantas pessoas serão prejudicadas em nossa região?
Dr. João Lopes: Somente neste ano (de 2014) nós fizemos uma média de mais de quatro mil atendimentos, sendo que a gente faz uma média de 160 a 200 cirurgias por mês. Esse ano nós fizemos 712 partos. Aliás os nossos serviços de partos é o que tem mais resolutividade em toda essa região, e o mais importante é que a gente não escolhe cor, não escolhe nível financeiro das pessoas, não escolhe nada, as nossas portas estão abertas para atender o povo, principalmente os mais necessitados.
Assis Ramalho: Deixo o espaço para que faça suas considerações finais e torcemos para que o problema seja resolvido com urgência por parte do governo.
Dr. João Lopes: Antes, eu gostaria de dizer que ainda ontem (dia 30) eu fiz uma reunião com todos os funcionários e dizia a eles que eu esperava que o final de 2014 fosse aquela coisa boa, com todos felizes, inclusive a gente iria fazer um evento de confraternização pra eles, que foram muitos merecedores, mas infelizmente não foi possível. Eu quero dizer ao povo de Petrolândia e de toda essa região que a gente não vai desistir e se deixar cair diante de obstáculos, e eu estou, apesar de tudo, prevendo um bom ano, e que as coisas melhorem na vida das pessoas, sobretudo das pessoas aqui de Petrolândia, porque é aqui onde a gente vive e gosta de viver, onde o povo tem um carinho especial pela gente, e eu acredito em Deus, e peço a Deus que ele nos dê força para que a gente possa enfrentar todas as dificuldades que apareçam nas nossas vidas. Então, eu desejo um feliz ano novo pra você, Assis, e pra todos os nossos amigos de Petrolândia, para as famílias de Petrolândia e da região, Eu tenho fé em Deus que a gente vai ter dias bem melhores neste ano de 2015. Também lhe agradeço por ter me procurado para que eu pudesse fazer esses esclarecimentos para a população de Petrolândia e região.
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Redação do Blog de Assis Ramalho