Francisco José em entrevista a Assis Ramalho (Foto: Jacirlene Fernandes) O renomado jornalista Francisco José, da TV Globo, esteve na cidade de Petrolândia, no dia 19/10/11, para realizar gravações para o programa "NORDESTE VIVER E PRESERVAR". O programa, apresentado por ele e por sua mulher, Beatriz Castro, vai ao ar aos sábados pela TV Globo Nordeste. Amante do mergulho, ele aproveitou para realizar filmagens na submersa Igreja do Sagrado Coração de Jesus, onde, segundo ele, conseguiu produzir imagens impressionantes.
Vale lembrar que Francisco José foi o único repórter, até hoje, a ter uma participação no noticiário Jornal Nacional, da TV Globo, falando ao vivo diretamente do fundo do mar. Entre muitas reportagens produzidas nos seus mais de trinta anos de TV Globo, o pernambucano Chico José, como é carinhosamente chamado por todos, também fez coberturas de guerras, cobriu várias Copas do Mundo, Olimpíadas etc. Leia a entrevista que eu fiz com o repórter Francisco José, para o programa "Acordando com as Notícias", apresentado por mim na Rádio São Francisco 102,7 FM de Petrolândia.
Assis Ramalho: Bom dia, Francisco José! É uma honra ter você no meu programa. A princípio, eu gostaria que você explicasse esse programa "NORDESTE VIVER E PRESERVAR".
Francisco José: Um abraço a todos os seus ouvintes, Assis. Nós temos esse programa, periodicamente, na Rede Globo Nordeste. É um programa só sobre preservação do meio ambiente, lugares onde a natureza é exuberante. A gente aproveitou pra vir até o Lago de Itaparica, via Petrolândia, pra mergulhar, fazer imagens externas, mostrar a beleza desta região, e também os aspectos de até que ponto o lago interferiu na natureza, nas espécies. Existiam aqui a criação de tilápia. Nós viemos acompanhados de uma companheira nossa de trabalho na Rede Globo, hoje, a Jailma (Barbosa), que trabalhou inclusive com vocês na emissora de rádio, que nasceu na antiga cidade e a família dela está vivendo até hoje, aqui em Petrolândia. Então ela é nossa produtora. Foi ela que sugeriu fazer essa reportagem. É muito pé-frio porque quando chegamos aqui estava chovendo muito. Onde ela chega, chove.
Assis Ramalho: Mas ela trouxe a chuva para o nosso Sertão...
Francisco José: Por um lado foi bom, porque vai ser bom para a agricultura, mas pra reportagem era melhor que tivesse bastante sol, pra iluminar mais o fundo do lago. Nós acabamos de fazer um mergulho na Igreja do Sagrado Coração de Jesus (Igreja da Barreira) e é muito interessante mostrar que aquela igreja está resistindo há vinte e três anos. E agora estamos mapeando o centro da Petrolândia antiga, e nós vamos continuar fazendo imagens aqui pra captar o que for possível.
Assis Ramalho: A água lhe fascina?
Francisco José: Olha, é atraente porque eu mergulho há muito anos. Antes de entrar na Globo, eu já mergulhava, fazia caça submarina, mas depois cheguei à conclusão que mergulhar pra matar os peixes era covardia. Os peixes, muitos deles, vem na frente da pessoa, no arpão, vem olhar. E aí passei a fazer um trabalho preservacionista, mostrar imagens, a necessidade de preservar as espécies, e isso já me levou aos sete mares, já me levou às cavernas. Eu fiz esse ano, há dois meses, um Globo Repórter nas cavernas do México, nas cavernas de Belize, no Oceano Pacífico, no Caribe. Nós já fomos a muitos lugares pra mergulhar, então a água realmente me atrai.
Assis Ramalho: Inclusive, você já chegou a fazer uma reportagem se comunicando ao vivo, do fundo do mar (para o Jornal Nacional)?
Francisco José: Foi algo inédito. Foi uma entrada ao vivo no Jornal Nacional, durante a "Rio 92". Eu pude falar, me parece que três ou quatro perguntas dos apresentadores do Jornal Nacional, diretamente do fundo do mar, ao vivo. Isso foi inédito e foi a única vez que a televisão mostrou alguém falando do fundo do mar.
Assis Ramalho: Você, que já fez tantas brilhantes reportagens, inclusive já fez coberturas de guerras, ficou alguma (ou algumas) reportagem que lhe marcou?
Francisco José: Olha, no início, eu era repórter esportivo. Quando eu entrei na Globo, eu já tinha ido a duas Copas do Mundo, e fui a mais quatro Copas e duas Olimpíadas pela Globo. Fui à Olimpíada de Seul e à Olimpíada de Los Angeles. Então, pelo fato de ser competição Copa do Mundo, em algumas delas o Brasil ter saído vitorioso, em provas de Olimpíadas ter tido representantes com marcas sensacionais, (essas reportagens) me marcaram muito. A emoção de estar cobrindo uma Copa do Mundo é uma coisa fora do normal.
Assis Ramalho: Você se emocionou muito com coberturas esportivas, mas até cobertura de guerra você já fez.
Francisco José: Verdade. Na Guerra das Malvinas (Argentina e Grã-Bretanha, abril a junho/1982), eu fui sempre o repórter mais avançado da Rede Globo. Primeiro, na região de Comodoro Rivadávia, que era a região mais próxima da guerra, de onde saíam os militares argentinos. Quando eu fui expulso de lá pelo Exército Argentino, que não queria jornalista nenhum naquela região, porque nós passamos a ser considerados "espiões", a Globo me mandou pelo Chile. E aí a gente até tentou o sobrevoo, que foi a matéria mais marcante da cobertura, pra chegar nas Ilhas Malvinas. Só que a imprensa mundial perdeu aquela guerra. Ninguém conseguiu cobrir direito, como sempre acontece nas guerras. Os repórteres chegam depois, quando já há um rendimento, quando a guerra já está resolvida, e o ideal era que nós tivéssemos chegado em plena guerra, em condições de mostrar o que estava acontecendo.
Assis Ramalho: Marcou (sua carreira) essa cobertura nas Malvinas?
Francisco José: Marcou muito, porque eu fiquei muito tempo envolvido nessa cobertura e foi em 1982. E quando eu saí de lá, saí direto pra Copa do Mundo da Espanha. Então, foram dois extremos: um com aquela apreensão, aquela expectativa, adrenalina a mil, podendo acontecer alguma coisa a qualquer momento, e depois indo ver a beleza da Copa do Mundo, que foi a Copa da Espanha.
Assis Ramalho: O repórter teme pela vida também, não é, Francisco José?
Francisco José: Claro! Todos nós tememos pela vida. Tem a vida, não só do repórter, mas de toda a equipe. Você só vê o repórter na televisão porque tem um cinegrafista gravando, porque tem um operador de áudio fazendo gravação, fazendo iluminação, fazendo a produção, então televisão é um trabalho de equipe, e muitas vezes, o cinegrafista se arrisca muito mais do que o repórter. Mas só quem leva a fama é o repórter, porque ele aparece. Mas quando você vir as imagens, lembre-se sempre que tem um profissional gravando aquelas imagens.
Assis Ramalho: Eu me lembro de um outro episódio marcante na sua carreira, que foi o caso daquele sequestro no Recife, onde você, pra salvar a vida de uma mulher grávida, se entregou aos bandidos. Como foi aquilo?
Francisco José: Aquilo foi em 1988 e foi um péssimo exemplo que eu dei de jornalismo.
Assis Ramalho: Você se arrepende?
Francisco José: Não, eu não me arrependo do que eu fiz, mas jornalisticamente, jornalista não é pra se envolver com a notícia. Era pra eu ter mostrado o sequestro, não pra participar do sequestro. É que, naquele momento, a parte emotiva falou mais forte, porque tinha uma mulher grávida entre os reféns. E já que eu estava sendo o intermediário entre os bandidos e a policia, até aí, eu estava fazendo a minha reportagem. Mas a partir do momento em que eles ameaçaram matar a mulher grávida, se o delegado não fosse substituí-la, eu propus ficar no lugar dela. Ela foi solta, eu fiz um passeio com um revólver na cabeça, dez pessoas dentro de um carro de Recife até Salvador...
Assis Ramalho: Foi uma mancha na sua brilhante carreira?
Francisco José: Não, não foi mancha, eu não me arrependo do que fiz. Se fosse necessário, eu faria de novo porque sempre é gratificante você poder ajudar alguém que está em dificuldades, e eu sempre procurei fazer isso.
Assis Ramalho: Francisco José, muito obrigado pela entrevista.
Francisco José: Um abraço!
Redação do Blog de Assis Ramalho