quinta-feira, outubro 23, 2014

Chesf, barrada em novo leilão, aumenta atrasos em obras

Após prejuízos, Chesf estimulou saída de 1.354 pessoas

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), órgão regulador do governo federal, expôs uma piora no atraso médio das obras da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), estatal e maior empresa do Nordeste. Em abril passado, a Aneel barrou a Chesf em uma disputa bilionária por contratos para implantar linhas de transmissão. Os participantes não poderiam ter mais de 180 dias de atraso em obras do gênero e a companhia já havia estourado a entrega de projetos, em média, em 541 dias. Semana passada, a Chesf voltou a ser barrada com um atraso maior ainda, na média de 647 dias.

A decisão da Aneel, publicada na última sexta-feira, afeta outras companhias que deveriam ter deixado projetos prontos para operação até o último dia 30. Além do atraso máximo tolerado, de 180 dias, as empresas não poderiam ter recebido mais de três autos de infração. Confira o documento clicando aqui.

Pela nova média, é como se a Chesf tivesse acumulado, de abril a setembro, 106 dias de estouro de prazo, o equivalente a mais de três meses. Quando ela foi impedida de participar do leilão de abril, tinha 16 obras com autos de infração já transitados em julgado na Aneel – multas contra as quais não poderia mais recorrer. Desta vez foram 13 obras.

As linhas de transmissão servem para levar eletricidade por grandes distâncias, fazendo a conexão entre usinas e áreas urbanas, como o Grande Recife, por exemplo. Nas cidades, a energia chega a empresas e cidadãos por distribuidoras como a Celpe.

Novas linhas servem para dar mais segurança ao setor elétrico – o Brasil é todo conectado, com o Norte mandando energia para o Nordeste e o Sudeste, por exemplo.

Além de atrasar o reforço nas ligações entre diferentes regiões, quando as linhas atrasam chegam a deixar usinas que acabaram de ficar prontas sem entregar energia às cidades. Foi o que aconteceu com a Chesf, que deixou turbinas eólicas produzindo energia para ninguém.

Os problemas começaram em meio a uma forte turbulência financeira na estatal. Em 2012, o rombo foi de R$ 5,3 bilhões. Ano passado, o prejuízo ficou em R$ 466 milhões.

A origem dos rombos foi política. Para cumprir uma promessa da campanha de 2010, de reduzir as contas de luz em 20%, a presidente Dilma Rousseff determinou que as empresas de energia desistissem de parte do retorno de investimentos feitos anos atrás. Em troca, o governo anteciparia para elas novos contratos por prazos muito longos, de 30 anos.

As estatais comandadas pelo governo aceitaram a missão e engoliram prejuízos bilionários. A Chesf até incentivou demissões. Gastou R$ 630 milhões e reduziu seu quadro em 1.354 pessoas.

A companhia só voltou a dar lucro no primeiro semestre deste ano, quando fechou com R$ 246 milhões no azul.
A Chesf foi procurada sobre o motivo da piora na média de atrasos e sobre as obras, mas não deu retorno à reportagem.

Por Giovanni Sandes - Jornal do Commercio

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