Você deve se lembrar das aulas de biologia no colégio, quando a professora explicava os detalhes da doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Uma das particularidades da enfermidade é sua forma de transmissão: o barbeiro (Triatoma brasiliensis), que você vê na imagem aí em cima, pica a pele de uma pessoa. Na mesma região, deposita suas fezes. Ao sugar o sangue, o inseto provoca uma coceira e, quando o indivíduo toca a região, o cocô – cheio de seres microscópicos – cai na corrente sanguínea. A moléstia tem suas primeiras manifestações dentro de duas semanas, com o aparecimento de febre e mal estar. Daí, ela some do mapa e só vai causar encrencas por volta de duas décadas depois, quando uma parcela dos infectados começa a apresentar graves sintomas cardíacos ou intestinais.
Pois saiba que o tal do barbeiro não é mais o vilão principal dessa história, segundo dados recentes. O médico Abílio Augusto Fragata Filho, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, na capital paulista, mostrou que as aulas de ciências precisarão de uma revisão em breve. Em uma palestra do Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, na tarde dessa terça (30), o especialista apresentou estudos que indicam o papel crescente de outras transmissões oportunistas da doença. A forma de contágio mais importante atualmente é a ingestão de açaí e cana-de-açúcar. Isso mesmo: as plantações desses dois produtos são o habitat do inseto. Em locais sem uma higiene adequada, ele acaba triturado junto com o fruto arroxeado ou os gomos doces.