Após os ataques nos primeiros meses deste ano, a 19 agências e postos bancários espalhados pelo Interior do Ceará, a população está sofrendo para pagar as contas e até fazer apostas em jogos de loteria. Filas extensas, horas de espera e muita gente se amontoando nos bancos e casas lotéricas. Esse é o quadro em vários municípios. Os moradores das cidades atacadas são obrigados a seguir para as agências mais próximas, nas cidades vizinhas, sobrecarregando os serviços bancários. Nas lotéricas não é diferente. A situação se agrava no início de cada mês, período do pagamento dos benefícios sociais do governo federal. O descontentamento é geral.
Os idosos, principalmente quem mora longe dos centros urbanos, sofrem mais. O agricultor João Nogueira, da comunidade de Cafundó, na zona rural de Choró, é um deles. Sua casa fica embrenhada no mato, a cerca de uma légua do povoado mais próximo. Para chegar à sede do município, ele precisa enfrentar viagem de quase três horas. Acorda às 3 horas da madrugada para não perder o carro de horário. A mulher, um ano mais nova, fica em casa. Não tem cabimento os dois passarem pelo mesmo sofrimento. Isso tudo para não terem a energia, o único conforto da casa do casal, cortada, conforme explica o idoso.
Não bastasse a demora, o desconforto torna a espera mais estressante. Quando não estão debaixo de sol são surpreendidos pela chuva. A alternativa encontrada por alguns, como o aposentado Augusto Mariano Silva, é chegar mais cedo na porta da lotérica, quando ainda se encontra fechada. Como está escuro, não sofre tanto com o calor. Nessas horas, ele prefere contar com um agasalho sobre os ombros, para se aquecer um pouco, por causa do frio da madrugada. O único risco é o de ser assaltado. "Mas os bandidos são espertos. Eles sabem que enquanto as portas estiverem fechadas não temos dinheiro no bolso", ressalta.