“Dentro da bacia do São Francisco não existe viabilidade dos perímetros, o que impossibilita a leva das suas águas. Daqui a quatro ou cinco anos, quando as obras estiveram funcionando, os conflitos internos (pelo acesso à agua) começarão.”
“A transposição do São Francisco já é uma instituição”, disse o engenheiro civil, hidrólogo e professor da Universidade Federal de Rio Grande do Norte – UFRN, Joao Abner Guimaraes Junior, ao tentar definir a “interminável” obra de transposição do rio São Francisco, programa do governo federal que teve início em 2005 para beneficiar os estados do Rio Grande do Norte, Paraiba, Pernambuco e Ceará. Ele apresentou, a convite do CBHSF e durante programação do primeiro dia da XXIV Plenária Ordinária, pontos estudados que comprovam a ineficiência das obras.
Segundo Abner, as intervenções nunca irão terminar por conta do mau planejamento que vem marcando o projeto desde o início dos trabalhos. “Levar água para duas das maiores barragens do Nordeste é desnecessário, uma vez que nesses locais já se encontra água em abundância”, revelou ele, referindo-se ao estado do Ceará, um dos beneficiados do projeto.
O professor salientou ainda que, diferentemente do que se evidencia na grande mídia, as obras continuam em andamento e não estão abandonadas, devendo gerar em breve conflitos pelo uso da água. “Dentro da bacia do São Francisco não existe viabilidade dos perímetros, o que impossibilita a leva das suas águas. Daqui a quatro ou cinco anos, quando as obras estiveram funcionando, os conflitos internos começarão”, pontuou ele, que expôs ao público os gastos das obras inicialmente orçados em R$5,5 bilhões, e que, hoje, ultrapassam o valor de R$8,5 bilhões.
Por fim, o estudioso destacou a importância do CBHSF dentro do projeto. “O Comitê do São Francisco tem que se manifestar e saber o que ocorre. As obras devem possuir um norte e o CBHSF, principalmente com a revisão do plano bacia, é fonte essencial para o melhoramento disso“, concluiu João Abner.