Geisel com o então presidente dos EUA, Jimmy Carter, durante visita ao Brasil: relatos da espionagem americana. Foto: Arquivo/CB/D.A Press - 29/3/78
Quarto presidente da ditadura militar brasileira, Ernesto Geisel era, até então, lembrado como um ditador que não apoiava execuções de inimigos políticos, além de ser o responsável por dar início à democracia no país. No entanto, a história começa a ser reescrita após a divulgação do memorando secreto do Departamento de Estado dos EUA sobre assassinatos e desaparecimentos com o aval de Geisel. Segundo o levantamento do Correio, de 1º de abril de 1974 até o fim do regime militar, ao menos 89 pessoas foram mortas ou desapareceram no país. Os dados obtidos equivalem a pouco mais de 20% de 434 mortes e desaparecimentos durante o regime militar. O levantamento foi feito a partir da análise do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), instaurada em 2014, ainda no governo da presidente Dilma Rousseff.
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse ontem que a divulgação do memorando da CIA, que acusa Geisel de ter endossado a execução de presos políticos, não afeta o “prestígio” das Forças Armadas. Ex-ministro da Defesa, Jungmann afirmou ainda que o governo não teve acesso ao documento de forma oficial, mas garantiu que alguma medida deve ser tomada. “O prestígio das Forças Armadas permanece no mesmo nível. As Forças Armadas são um ativo democrático, isso não é tocado por uma reportagem”, minimizou, em coletiva de imprensa.
O advogado e coordenador da CNV, Pedro Dallari, afirmou que o documento é “estarrecedor” e reforça o posicionamento da comissão de que as Forças Armadas devem reconhecer a responsabilidade institucional pelas execuções. “É um documento estarrecedor, sem dúvida nenhuma, porque descreve com minúcia uma conversa que evidencia práticas abjetas e que um presidente da República com sua equipe tratou do extermínio de seres humanos”, disse Dallari ao portal G1.