domingo, julho 23, 2023

Trama contra Alexandre de Moraes: conheça as versões e contradições de Bolsonaro, Silveira e Do Val


Os três atores políticos envolvidos em suposta trama contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e em um plano de golpe de Estado prestaram depoimento a investigadores da Polícia Federal (PF) nos últimos dias.

Marcos Do Val (Podemos-ES), Daniel Silveira (PTB) e Jair Bolsonaro (PL) expuseram suas versões acerca de reunião ocorrida em 8 de dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada. O detalhamento dos fatos, porém, muda de acordo com a pessoa que os narrou. Nem o próprio delator das suspeitas conseguiu manter suas afirmações.

Marcos Do Val já tinha ido e vindo em suas informações, ao apresentar pelo menos quatro versões diferentes. Diante da divergência de relatos, o ministro Alexandre de Moraes determinou a abertura de um inquérito para apurar a situação.

Inicialmente, o senador Marcos Do Val afirmou que teria se reunido com Silveira e Bolsonaro em uma trama para deflagrar um golpe de Estado destinado a anular as eleições presidenciais de 2022, nas quais Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito.

Havia ainda a denúncia da suposta tentativa de gravar Moraes, na expectativa de que ele falasse algo que o comprometesse, a fim de abrir caminho para o que seria uma intervenção militar no país. No entanto, os depoimentos à Polícia Federal apontam um ninho de contradições.
A reunião

Em oitiva à Polícia Federal, em 12 de julho, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou ter se reunido com os dois, mas negou qualquer plano contra Moraes. Afirmou que, em conversa de 20 minutos, tratou tudo dentro das “quatro linhas da Constituição”.

O depoente ainda ressaltou não ter intimidade com Do Val; por esse motivo, Daniel Silveira teria marcado a reunião entre os três. O ex-deputado, por sua vez, contou versão diferente.
por taboola

Disse à PF que o então presidente “não foi avisado com antecedência que Do Val iria ao seu encontro”. Falou ainda que a conversa durou entre “7 e 10 minutos” e que atuou apenas como mero espectador.

Segundo depoimento na íntegra ao qual o colunista Paulo Cappelli, do Metrópoles, teve acesso, Silveira afirmou que Do Val o procurou e “insistiu”, por telefone, para conseguir uma agenda com Bolsonaro.

Na ocasião, Daniel comunicou ao senador a data em que se encontraria com o então presidente, no Palácio da Alvorada. “Se Marcos Do Val tivesse interesse, que aparecesse por lá”, relatou Silveira à PF. O senador, então, teria aguardado o ex-deputado na entrada da residência oficial.


Em contradição ao relato de Marcos Do Val, Daniel Silveira alegou que não sabia o que seria discutido no encontro entre o senador e Bolsonaro. De acordo com ele, Do Val disse que o assunto era “sigiloso” e que “necessitava de um encontro rápido” com o presidente.

Já Bolsonaro relatou à PF versão bem diferente: afirmou que Daniel Silveira adiantou, sim, que Alexandre de Moraes estaria na pauta do encontro.
Autoria do plano de gravação

O senador responsabiliza o ex-deputado federal Daniel Silveira, investigado no âmbito do Inquérito das Fake News, pela autoria do plano para gravar Moraes. Silveira nega.

Questionado sobre mensagens trocadas com Do Val referentes a equipamentos de escuta e transmissão, o ex-deputado alega que o senador “solicitou sua ajuda em conseguir esses equipamentos para comprovar que estava sendo perseguido”.

Silveira disse não ter “qualquer equipamento de escuta” e que teria prometido ajudar Do Val apenas para “acalmá-lo”.

Já Do Val afirmou que o plano de Silveira era gravar Moraes escondido e que, para convencê-lo, disse que o senador se transformaria em “herói brasileiro” se executasse a “missão”.

A PF questionou Silveira sobre o uso do termo “missão” em mensagem enviada a Do Val. O ex-deputado respondeu se tratar de apoio a uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que Magno Malta apresentaria no Senado, para dar o cargo de senador vitalício a Bolsonaro e a ex-presidentes da República.

Troca de mensagens com Moraes

Silveira afirmou ainda que Do Val tentou “cooptá-lo a enfrentar Moraes”. Relatou que o senador teria lhe mostrado uma suposta troca de mensagens com o magistrado.

Nela, o ministro do STF teria criticado uma notícia que informava que Silveira seria nomeado chefe de gabinete do senador Magno Malta – a nomeação acabou não acontecendo, porque Silveira foi preso antes.

Do Val teria dito ao ex-deputado: “Olha a parcialidade dele (Moraes). Vou derrubar”. Daniel Silveira relatou à PF que respondeu: “Deixa o Alexandre quieto. Não quero saber de nada com o Judiciário”.

Bolsonaro também relatou que Do Val tentou demonstrar algum grau de amizade com Moraes.

“Tudo começou por aí. Houve o contato de Daniel Silveira, [dizendo] que Do Val queria falar comigo assunto importante. O Daniel Silveira queria que o Marcos Do Val falasse alguma coisa, mas ele não falou nada. Não sei qual foi o contato do Daniel com o Do Val. O que eu tinha de conhecimento é que eles não tinham relacionamento”, acrescentou o ex-presidente.
“Coisa de maluco”

Em entrevista à imprensa depois da oitiva com a PF, Bolsonaro declarou: “Dia 9 ou 10 de dezembro, logo após aquela reunião comigo e Marcos do Val, eu respondi para ele: ‘Coisa de maluco’. Eu não tinha vínculo com sr. Marcos Do Val. Nada foi tratado. Não tinha plano para gravar o ministro Alexandre de Moraes”.

Bolsonaro ainda mostrou conversas de WhatsApp nas quais o senador teria relatado que Silveira estaria articulando uma trama para que Moraes perdesse a função de ministro e comentou: “Coisa de maluco”.

O ex-presidente Jair Bolsonaro confirmou à PF a reunião, mas negou plano contra Moraes Vinícius Schmidt/Metrópoles

O senador Marcos Do Val afirmou que a trama contra Moraes foi arquitetada por Daniel Silveira Metrópoles

O ex-deputado Daniel Silveira nega ter armado a trama para gravar Moraes Igo Estrela/Metrópoles

O ex-presidente Jair Bolsonaro confirmou à PF a reunião, mas negou plano contra Moraes Vinícius Schmidt/Metrópoles
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Contradições do denunciante

Marcos Do Val mudou suas versões dos fatos por diversas vezes e ainda precisou explicar mensagens em seu celular sobre o episódio. “Houve uma tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele”, alegou o senador.

Depois, ele mesmo negou que isso tivesse acontecido. O parlamentar falou da reunião e, em certa ocasião, disse até que o encontro não havia ocorrido.

Em oitiva à PF, Do Val ainda disse ter blefado ao ex-deputado federal Daniel Silveira sobre se reportar à inteligência dos Estados Unidos. Justificou ter usado o argumento para “ganhar tempo” de informar a Moraes toda a trama que se desenvolvia nos bastidores.

A troca de mensagens entre o senador e o ex-deputado federal ocorreu em dezembro do ano passado, entre os dias 13 e 14. Em conversas interceptadas no WhatsApp, o senador escreveu que tinha contato com agentes estrangeiros sobre o plano de gravar Moraes.

“Que, encerrada a reunião, ainda no carro, encaminhou mensagem ao ministro Alexandre, reportando o que havia sido proposto, na reunião, por Daniel, e que achou a proposta ‘esdrúxula, imoral e até criminal’, colocando-se à disposição para encontrar o ministro para dar mais detalhes”, revela e registra o documento do depoimento ao qual o Metrópoles teve acesso.

Agora, os investigadores da PF vão juntar todas as versões em inquérito para apurar o que houve naquela reunião e se o senador Marcos Do Val incorreu em falsa comunicação de crime.

Por Metrópoles

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