segunda-feira, abril 24, 2023

Atletas brasileiros retidos no Sudão pegam a estrada para tentar escapar do país em guerra


Créditos: BLNews - Cartun, capital do Sudão, sob fogo cerrado
Mais de uma semana após o início dos conflitos no Sudão, o ônibus do time Al-Merrikh chegou para ajudar na retirada dos nove brasileiros que defendem a equipe - quatro jogadores e cinco membros da comissão técnica. Eles deixaram a capital Cartum neste domingo (23) em direção à fronteira com o Egito.


Por mensagem de áudio, o técnico Heron Ferreira relatou ao Fantástico o início dessa jornada. Veja no vídeo acima.

“Uma tensão muito grande. Muito grande mesmo. Passamos numa barreira ali, os soldados mandaram descer todo mundo do ônibus. A gente vai viajar a noite toda, a madrugada toda, para que, às oito horas da manhã, a gente esteja na divisa, na fronteira do Sudão com o Egito”, relata o técnico.

A reportagem também falou com o atacante Paulo Sérgio.

“Não tivemos em nenhum momento ajuda do Itamaraty, só para deixar bem claro; em nenhum momento. Sempre ficaram de ‘estamos com as outras embaixadas, estamos conversando’, enfim, e não resolveram nada", diz o jogador.

Por nota, o Itamaraty afirmou que "segue empreendendo esforços para retirar todos os brasileiros em território sudanês tão logo quanto possível" e que 15 dos 16 brasileiros que estavam em Cartum já deixaram a capital, incluindo três crianças que saíram em um comboio da ONU.

A nota diz ainda que "o governo brasileiro chegou a viabilizar evacuação mais ampla em coordenação com a ONU e com países europeus, que não pôde ser concretizada por questões de deslocamento e segurança".

Por Fantástico

Notícia relacionada, veja abaixo


Petrolandense jogador de futebol profissional relata medo e vontade de voltar ao Brasil em meio a conflito militar no Sudão: "eu não desejo isso pra ninguém, é a pior coisa do mundo"

Neste sábado (22/04) completou-se uma semana do início do sangrento conflito militar entre o Exército e o grupo paramilitar Força de Apoio Rápido do Sudão, país localizado no centro-norte da África e que faz fronteira com sete países e fica entre o Egito, a Arábia Saudita, a Etiópia e a região africana do Sahel. Não há perspectiva de trégua nem de final para os combates que já deixaram mais 400 mortos e 3 mil feridos. Há cerca de três dias, um cessar-fogo de 72 horas chegou a ser anunciado, mas moradores da capital relataram a continuidade dos tiroteios e explosões. Enquanto isso, civis sudaneses e estrangeiros sofrem as consequências, em meio ao caos. Entre eles, jogadores de futebol brasileiros, que jogam em times do Sudão e, nas redes sociais, relatam, há vários dias, a situação de medo e incerteza em que se encontram. Um desses profissionais que viram o sonho se transformar em pesadelo é o petrolandense Ellan Delon, jogador do Al Fallah Atbara, que está hospedado em hotel na cidade de Atbara, com outros colegas do time. A cidade fica a mais de 300 km da capital, de automóvel, mas a guerra tomou todo o país.

Em contato com a reportagem do Blog de Assis Ramalho e da Web Rádio Petrolândia, Ellan Delon que é natural de Petrolândia, sertão de Pernambuco, informou que está no time sudanês há quatro meses, junto com outros brasileiros que também estão no time de futebol. Ele chegou ao país para disputar uma competição, no entanto, o torneio foi interrompido pela guerra. Ellan informou manter contato com seus familiares que residem em Petrolândia e disse ainda que a Embaixada brasileira entrou em contato com os jogadores no hotel e pediu que se mantivessem em segurança e, assim que houver uma trégua, levá-los a um país vizinho, como Egito ou Dubai, de onde poderão voltar para casa. Na quinta-feira, Ellan informou que o local onde estavam hospedados é relativamente seguro e havia suprimentos suficientes, naquele momento.

Ellan disse que é "coisa de filme" a situação que enfrentam. "É desesperador. Não podemos sair de casa, em apenas um quarto todos nós. É desesperador. É barulho de bomba, fumaça, aviões sobrevoando a cidade, aviões de guerra e lança-míssil. Além disso, aviões atacaram o planalto central da cidade. É muito aterrorizante. Não tem o que fazer, é muito desesperador."

"Só peço em oração que tudo dê certo, que é para tirar a gente daqui, porque eu não desejo isso pra ninguém, é a pior coisa do mundo", finalizou Ellan.

De acordo com a rede de TV Al Jazeera, em Cartum, capital do Sudão, em meio à luta entre facções que mergulharam o país no caos, expatriados estrangeiros se preparam para fugir com escolta militar. O exército sudanês disse nesse sábado (21/04) que estava coordenando esforços para evacuar diplomatas dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, China e França para fora do país em aviões militares. Diplomatas e suas famílias da Arábia Saudita já haviam conseguido sair do Sudão. Cidadãos jordanianos deveriam partir mais tarde. O chefe do Exército, Abdel Fattah al-Burhan, falou com os líderes, solicitando evacuações seguras de seus cidadãos e diplomatas do Sudão, que foi abalado por combates sangrentos na semana passada.

Hiba Morgan, da Al Jazeera, reportando de Cartum, disse que resta saber se os estrangeiros conseguirão chegar em segurança. Alguns sudaneses encurralados dizem que estão com muito medo de se aventurar fora da zona de batalha.

“Muitas pessoas com quem conversamos dizem que não acreditam que seja seguro o suficiente para se aventurar fora de suas casas, com muitos ainda presos nas proximidades do palácio presidencial e do quartel-general militar”, disse Morgan, acrescentando que outros estrangeiros, inclusive da Hungria, foram capaz de fugir via Egito.

“Embora a evacuação tenha sido planejada, ninguém sabe se eles conseguirão sair com segurança para embarcar nesses aviões e sair do Sudão”, disse ela.

Testemunhas relataram uma grande batalha no norte de Cartum entre as Forças Armadas Sudanesas e combatentes RSF envolvendo ataques aéreos, artilharia e fogo de armas pequenas.

A violência foi desencadeada por divergências sobre um plano apoiado internacionalmente para formar um novo governo civil quatro anos após a queda do líder autoritário Omar al-Bashir e dois anos após um golpe militar. Ambos os lados acusam o outro de impedir a transição.

Enquanto isso, muitos civis relatam que suprimentos básicos, como água e comida, estão acabando após sete dias de guerra.


Redação do Blog de Assis Ramalho
Com informações de Ellan Delon, Al Jazeera e g1
Fotos: Ellan Delon


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