quinta-feira, dezembro 22, 2022

Por que o PM atirou em colegas de batalhão no Recife? Confira o que já se sabe e o que as investigações ainda precisam descobrir sobre o caso


Movimentação foi intensa no 19º Batalhão, no bairro do Pina, após tragédia ocorrida na manhã de ontem - FOTO: REPRODUÇÃO/TV JORNAL

Dois dias após o soldado da Polícia Militar Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, assassinar a esposa, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, atirar em colegas do 19º Batalhão, na Zona Sul da capital, e depois se matar, as investigações seguem para esclarecer as dúvidas que cercam o caso.

Há dois inquéritos em andamento. O primeiro, da Polícia Civil, apura as circunstâncias do feminicídio de Cláudia Gleice da Silva, de 33 anos, que estava na casa da mãe dela escondida, após encerrar o relacionamento conturbado e marcado por ameaças e agressões - segundo relatos de parentes e amigos da vítima. A mulher estava grávida de três meses do policial, que a matou com vários tiros e fugiu.

Cláudia Gleice da Silva foi morta a tiros na casa da mãe, no Cabo de Santo Agostinho. Ela estava grávida de três meses do policial - IMAGEM AUTORIZADA PELA FAMÍLIA

O segundo inquérito é de responsabilidade da Polícia Militar. É essa investigação que pretende esclarecer os motivos que levaram o soldado Guilherme Barros a ir ao 19º Batalhão e atirar em quatro policiais antes de cometer suicídio.

Existiam desavenças entre o PM e os colegas atingidos pelos tiros? A escolha das vítimas foi aleatória? O que dizem os dois policiais sobreviventes? O sargento Maurino Uchoa, baleado de raspão na cabeça, que recebeu alta médica ainda na terça-feira, já teria sido ouvido pelos investigadores.

O cabo Paulo Rebelo, ferido no ombro, passou por cirurgia e segue internado no Hospital Português, no Recife. Não há previsão de alta e o estado de saúde dele não foi revelado.

Também foram atingidos pelos tiros o 2º tenente Wagner Souza do Nascimento, de 30 anos, que morreu na hora, e a major Aline Maria Lopes dos Prazeres Luna, 42, que era subcomandante do 19º Batalhão. A PM chegou a ser socorrida e levada para o Hospital Português, mas faleceu no mesmo dia - horas após passar por cirurgia.

Major Aline Maria Lopes dos Prazeres Luna, 42, atuava na Polícia Militar há 24 anos. Também era psicóloga - DIVULGAÇÃO 

Os depoimentos de familiares do soldado também vão ajudar na condução das investigações. Nessa quarta-feira, o pai afirmou que não tinha contato com ele há cerca de três anos e que não sabia de nenhum problema relacionado à vida pessoal ou profissional dele.

Áudios e prints de mensagens de WhatsApp, sem comprovação de autoria, circulam pelas redes sociais. Mas é preciso levar em consideração que esse tipo de conteúdo, que muitas vezes mais atrapalha do que ajuda na investigação, precisa de checagem dos responsáveis pelos inquéritos e não deve ser compartilhado como se fosse verdadeiro.

Não há prazo para conclusão dos dois inquéritos, que dependem dos depoimentos e laudos periciais do Instituto de Criminalística de Pernambuco.

DEPOIMENTO DE MOTORISTA DE APLICATIVO

Um motorista de aplicativo relatou à Polícia Militar que foi abordado pelo soldado Guilherme Barros no Cabo de Santo Agostinho - pouco após o feminicídio.

"O motorista estava indo pegar um cliente e acabou abordado pelo policial, que tirou uma arma da sacola e apontou para ele. O motorista achou que era um assalto e disse que ele (policial) poderia levar o carro, mas que não o matasse", contou a advogada do condutor, Cassandra Gusmão.

"O policial então disse que o motorista obedecesse as ordens dele. Ele entrou no carro e, com a arma apontada para o motorista, mandou ele seguir até o Pina. Foram mais de 40 minutos de terror até lá. O policial ligava para as pessoas dizendo que matou a esposa e que ia matar os inimigos antes de se matar", detalhou a advogada.

"Próximo ao batalhão, o policial pediu para o motorista parar o carro. Ele vestiu o colete (à prova de bala) e disse para meu cliente não correr se não seria morto. 'Não faça nenhum movimento'. Depois mandou ele parar perto do portão do batalhão e saiu do carro. Depois, o motorista só ouviu os tiros."

Segundo a advogada, o motorista ligou para ela desesperado. Ela orientou que ele prestasse depoimento à polícia para ajudar nas investigações e, claro, evitar que ele também fosse considerado cúmplice do episódio trágico.

O motorista foi ouvido no próprio batalhão. O depoimento é um passo importante para o andamento do inquérito policial militar.

Por Raphael Guerra
JC Online

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