Uma casa abandonada e tomada pelo mato em Goiânia (GO) é a sede, no papel, de uma empresa que venceu pregões de R$ 12 milhões para compra de caminhões de lixo, em apenas um ano. A poucos quilômetros dali, uma outra firma registrada em nome de um beneficiário do Auxílio Emergencial do governo, que até pouco tempo atrás vendia merenda escolar, também ganhou licitações no valor de R$ 9 milhões para a venda dos veículos no ano passado.
As duas empresas estão entre as que mais venderam caminhões de lixo para o governo com preços inflados. Num dos casos, o governo aceitou pagar a uma delas até R$ 85,6 mil a mais pelo mesmo caminhão comprado dois meses antes pelo menor valor. A farra na compra de caminhões de lixo tem sido revelada pelo Estadão numa série de reportagens.
Ao analisar 1,2 mil documentos, o jornal identificou indícios de superfaturamento de R$ 109 milhões, empresas em nome de “laranjas” e ligadas a políticos – como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira -, além de licitações suspeitas, encerradas em apenas 88 segundos.
Dos R$ 21 milhões previstos para as duas empresas de Goiânia – Globalcenter Mercantil Eireli e Fibra Distribuição e Logística Eireli -, R$ 4,7 milhões foram direcionados pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) para a compra de 15 veículos compactadores de lixo. Numa distorção do processo de compras públicas, o parlamentar se envolveu diretamente na interlocução com essas empresas. Vanderlan admitiu ao Estadão que pressionou as firmas pela entrega dos veículos a seus redutos eleitorais.