10 julho 2025

"Impactos severos": setor produtivo do Brasil manifesta preocupação com tarifa de 50% anunciada por Trump


Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - Foto: Andrew Caballero-Reynolds / AFP

Por Agência O Globo

Associações e entidades setoriais estão manifestando preocupação e já apontam impactos negativos em diferentes segmentos do setor produtivo com o anúncio, nesta quarta-feira, do presidente americano Donald Trump de que produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos serão taxados em 50%.

O economista-chefe do Goldman Sachs, Alberto Ramos, em relatório divulgado nesta quarta-feira à noite, diz que o PIB brasileiro pode ser reduzido entre 0,3 e 0,4 ponto percentual com as tarifas aplicadas por Trump. Ele calcula que a tarifa efetiva de importação para os produtos brasileiros fique em 35,5 pontos percentuais, se não houver “grandes retaliações”:

“Não está claro se, como e quando o Brasil retaliaria. A inclinação política pode ser nesse sentido, mas prevemos que os exportadores locais irão pressionar o governo para reduzir a tensão.”

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) diz que a prioridade do governo brasileiro após o tarifaço deve ser “intensificar a negociação com o governo de Donald Trump para preservar a relação comercial histórica e complementar entre os países”.

“Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano. Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia. Por isso, para o setor produtivo, o mais importante agora é intensificar as negociações e o diálogo para reverter essa decisão”, diz Ricardo Alban, presidente da CNI, em nota.

A Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) disse em nota que tem "profunda preocupação" com o anúncio, que pode "causar impactos severos sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas entre os dois países".

A entidade, que promove laços empresariais entre os dois países, pediu em nota que os governos brasileiro e americano retomem "com urgência um diálogo construtivo" na busca por uma solução negociada "fundamentada na racionalidade, previsibilidade e estabilidade, que preserve os vínculos econômicos e promova uma prosperidade compartilhada".

"A relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos sempre se pautou pelo respeito, pela confiança mútua e pelo compromisso com o crescimento conjunto. O comércio de bens e serviços entre as duas nações é fortemente complementar e tem gerado benefícios concretos para ambos os lados, sendo superavitário para os Estados Unidos ao longo dos últimos 15 anos — com saldo de US$ 29,2 bilhões em 2024, segundo dados oficiais norte-americanos", diz o texto.

'Isolamento comercial'
A Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) destacou que a política tarifária atinge diretamente as empresas brasileiras. Presidente do conselho da entidade, José Ricardo Roriz traçou que uma tarifa de 50% torna "praticamente inviável" a operação, afetando faturamento e empregos.

Ele ainda observa que os impactos não se restringem apenas aos produtos finais exportados, mas a toda a cadeia produtiva, com pressão em outros setores que dependem de embalagens, como alimentos, componentes automotivos e fertilizantes.

“Estamos passando de um dos países com menores tarifas de importação para uma situação de isolamento comercial. Isso desestimula o investimento produtivo e compromete a credibilidade do Brasil como parceiro confiável. Empresas internacionais que atuam no país para exportar a partir daqui serão diretamente penalizadas. Estamos vendo crescer um clima de incerteza justamente quando deveríamos estar atraindo investimento estrangeiro”, afirmou Roriz, em nota.

Ele também defendeu que é preciso cautela na negociação:

"O Brasil não pode se colocar em disputas geopolíticas que não nos dizem respeito. Precisamos focar em abrir mercados, fortalecer nossas cadeias industriais e garantir segurança jurídica e diplomática. Neutralidade e pragmatismo devem orientar nossa atuação internacional”, ponderou.

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