Por: Natália Portinari, Carolina Nogueira e Mateus Coutinho * Colunista do UOL e do UOL, em Brasília.
A investigação sobre desvio de dinheiro no Ceará, que levou a busca e apreensão ontem contra o deputado federal Junior Mano (PSB-CE), foi enviada ao STF (Supremo Tribunal) após indícios de que o deputado usava prefeituras para lavar dinheiro de suas emendas parlamentares.
A investigação partiu de um depoimento apontando que Junior Mano cobrava retorno de 15% sobre os valores que enviava aos municípios investigados, segundo relatório obtido pelo UOL.
O inquérito foi aberto, inicialmente, para apurar a suspeita de compra de votos nas eleições de 2024 por parte de Bebeto do Choró, que concorria a prefeito de Choró (CE). Eleito, ele não tomou posse em razão da investigação, e hoje está foragido.
Em setembro de 2024, a ex-prefeita de Canindé (CE) Rozário Ximenes disse, em depoimento à Polícia Federal, que havia uma organização criminosa liderada por Bebeto e Junior Mano para lavar dinheiro de emendas.
"A lavagem consiste em contatar o gestor, oferecendo por exemplo R$ 1 milhão, com retorno de 15% pra ele", disse Ximenes, segundo o relatório da PF.
A ex-prefeita disse ainda em seu depoimento que "Bebeto trabalha para 51 prefeituras, juntamente com Junior Mano" e que "o deputado concede as emendas, manda para ele e ele lava".
Em nota, Junior Mano negou participação em qualquer irregularidade. "O deputado Júnior Mano não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos."
Em 25 de setembro, foram apreendidos cerca de R$ 600 mil na posse de uma policial militar. Esse dinheiro pertenceria, segundo aponta a investigação, ao dono de uma empresa de fachada ligada à organização criminosa.
Nesse mesmo dia, a PF identificou contatos entre a irmã de Bebeto do Choró, Cleidiane de Queiroz Pereira, também suspeita de ser integrante do esquema, e os deputados Junior Mano e Yury do Paredão (MDB-CE).
Levantamento do UOL mostra que quase a metade (45%) das emendas individuais do deputado, entre 2021 e 2024, foi na modalidade de transferências especiais, chamada de "emenda Pix", quando não há necessidade de apresentação de um plano de trabalho prévio.
Foram R$ 47 milhões dessa maneira, num total de R$ 104 milhões em emendas, de acordo com o Sistema Integrado de Orçamento e Planejamento (Siop).
Ontem, o gabinete de Mano, na Câmara dos Deputados, foi alvo de mandados de busca e apreensão. A operação da PF ocorreu também no Ceará, nas cidades de Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio, bases eleitorais de Mano.
O ministro Gilmar Mendes, relator do caso no STF, determinou a abertura de uma investigação específica sobre desvio de dinheiro de emendas parlamentares. Segundo reportagem da Folha, há também citação a recursos enviados por Eunicio de Oliveira (MDB-CE), Zé Guimarães (PT-CE) e Yury do Paredão (MDB-CE).
Zé Guimarães nega participação nos fatos investigados e disse que não enviou emendas para as prefeituras citadas. Eunicio disse que destina emendas para obras em dezenas de municípios cearenses, de forma transparente e de acordo com a legislação. Yury do Paredão disse que tem compromisso com a transparência e o desenvolvimento do Ceará.
A defesa Cleidiane de Queiroz Pereira também não foi localizada pelo UOL para comentar as acusações.
Por: Natália Portinari, Carolina Nogueira e Mateus Coutinho Colunista do UOL e do UOL, em Brasília
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