sexta-feira, março 25, 2022

Fiocruz: Pela primeira vez desde julho de 2020, todo o país está fora da zona de alerta para Covid-19





O novo boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgado nesta sexta-feira, mostrou que todos os estados brasileiros estão marcados na cor verde, sinalizando que estão fora da zona de alerta com taxas de ocupação de leitos inferiores a 60%. É a primeira vez que todo o país está nesse estágio desde julho de 2020.

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“O cenário atual é resultado do avanço na vacinação, com 82% da população com a primeira dose, 74% com o esquema de vacinação completo e 34% com a dose de reforço. Porém, este avanço precisa ser ampliado e acelerado para que se reflita em maior velocidade na queda das internações e óbitos”, diz o documento.
O sanitarista e pesquisador da Fiocruz Christovam Barcellos, membro do Observatório Covid-19 e um dos responsáveis pelo boletim, explica que a tendência de desaceleração da pandemia começou a ser observada no fim de janeiro e agora chegou a uma redução na pressão do sistema de saúde.

— A gente monitora diversos indicadores, e via sinais de uma diminuição da positividade dos testes ali no fim de janeiro. Depois, vimos uma queda de casos e óbitos no começo de março. Agora, a gente vê esse alívio nos hospitais com a queda na ocupação de leitos. Então a gente pode dizer que a rede de saúde saiu de uma fase de colapso, mas ainda precisamos continuar com o monitoramento — afirma Barcellos.

O grande número de pessoas contaminadas durante a última onda da Covid-19 no Brasil também contribuiu para que o país saísse de um pico de quase 200 mil casos de Covid-19 por dia, em janeiro, para uma média móvel de cerca de 34 mil diagnósticos diários, acrescenta o pesquisador da Fiocruz.

— Essa última onda, que começou em dezembro, foi dominada pela Ômicron e foi muito curta porque a variante é muito transmissível e atingiu um número muito grande de pessoas ao mesmo tempo. Porém, ela provocou menos danos por causa da vacinação — diz o sanitarista.

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Próximos passos

O boletim aponta que o cenário reflete a tendência de queda nos indicadores de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) e nos números de óbitos diários por Covid-19. Para manter a desaceleração, os pesquisadores destacam a necessidade de se ampliar a vacinação com a dose de reforço e a cobertura do público infantil.

Para a imunologista e doutora em Biociências e Fisiopatologia, Letícia Sarturi, a situação epidemiológica atual leva a uma esperança de que a Covid-19 esteja entrando numa fase de controle no país. No entanto, ela defende que os próximos passos serão determinantes para saber se haverá ou não o risco de um aumento de casos nos próximos meses.

— Apareceram variantes com algum escape imune, como a Ômicron, mas, a partir do momento em que a terceira dose ganhou força no país, começamos a ver essa redução dos casos graves e da ocupação de leitos. Então é essencial incentivar a vacinação para as pessoas com o esquema vacinal atrasado e intensificar a terceira dose, isso é o mais importante nesse momento — afirma a especialista.

Para isso, o boletim reforça que é preciso haver uma busca ativa dos idosos que ainda não receberam o primeiro reforço, além da quarta dose para os públicos elegíveis. O Ministério da Saúde orienta a aplicação adicional para imunossuprimidos e pessoas com mais de 80 anos. Em determinados estados, esse público-alvo envolve ainda outras faixas etárias e profissionais da saúde.

— A dose de reforço é essencial para todos, mas, para os grupos mais vulneráveis, a segunda dose de reforço, ou quarta dose, é também recomendada porque essas pessoas naturalmente não têm uma resposta imunológica tão adequada — explica Letícia.

Barcellos, do Observatório Covid-19 Fiocruz, destaca ainda que, devido à queda de proteção dos imunizantes com o tempo, há sempre a possibilidade que o país retorne a cenários piores da pandemia caso a população deixe de atualizar o esquema vacinal. Ele reforça também que é preciso ampliar a cobertura a nível mundial, uma vez que lugares com baixas taxas de vacinação são mais suscetíveis ao surgimento de uma nova variante.

Enquanto a América do Sul, por exemplo, lidera na vacinação com cerca de 72% da população com o esquema primário completo, no continente africano esse percentual não chegou a 15%, mostram dados do Our World in Data, projeto de dados da Universidade de Oxford.
Momento de cautela

Apesar da melhora, a Fiocruz considera que é “prudente” a manutenção do uso de máscaras em ambientes fechados, aqueles com grande circulação de pessoas – como transportes coletivos – e ambientes abertos com aglomerações. “Estas medidas, combinadas com a ampliação da vacinação, atingindo regiões com baixa cobertura, e doses de reforço em grupos populacionais mais vulneráveis, podem reduzir ainda mais os impactos da pandemia sobre a mortalidade e internações”, afirma o boletim.

Os especialistas ouvidos pelo GLOBO concordam com a recomendação da Fiocruz e reforçam que, apesar do contexto da liberação de máscaras em ambientes fechados em alguns lugares, como na cidade do Rio de Janeiro e no estado de São Paulo, a proteção facial ainda é indicada em ambientes de alto risco, como unidades hospitalares.

Segundo a Fiocruz, os números das últimas semanas epidemiológicas apontam para um período de estabilidade. Como mostrou o boletim do consórcio de veículos de imprensa divulgado nesta quinta-feira, atualmente a média móvel no país é de 269 óbitos por dia, número 42% menor que o cálculo de duas semanas atrás. O índice segue tendência de queda há 27 dias e, ontem, seis estados não registraram mortes pela doença.

A Fiocruz defende que o sistema de saúde aproveite o período de menor transmissão para readequar os serviços médicos a fim de atender demandas que ficaram represadas pela alta de casos em estágios anteriores da pandemia.

Além disso, destaca a importância de se investir na “possível incorporação de medicamentos baseados em evidências científicas hoje disponíveis para o tratamento da Covid-19 moderada ou grave”. Alguns desses remédios, aprovados por agências reguladoras estrangeiras e sob análise da Anvisa, são o Paxlovid, da Pfizer, e o Molnupiravir, da MSD.

O Globo



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