sexta-feira, dezembro 15, 2023

Bolsa: Por que investidores estão otimistas com o Brasil

Bolsa de São Paulo, a B3, sofre influência dos juros nos EUA e da queda da Selic no Brasil — Foto: Bloomberg

Ibovespa renovou ontem seu recorde de fechamento, ainda se beneficiando do maior apetite por risco no exterior após a decisão sobre os juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na véspera, vista como mais suave pelo mercado.

Além do Fed, os investidores repercutiram o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que na quarta-feira reduziu a Selic a 11,75% ao ano, e anúncios de outros bancos centrais na Europa.

O principal índice da Bolsa de São Paulo, a B3, subiu 1,06%, aos 130.842 pontos. O recorde de anterior era de 7 de junho de 2021, quando o Ibovespa encerrou aos 130.776 pontos.

A percepção de que o cenário global inflacionário do pós-pandemia pode estar ficando para trás leva investidores a apostar na queda dos juros e buscar alternativas aos títulos de renda fixa em mercados de ações de países emergentes como o Brasil. O risco é mais alto, mas as chances de ganho também.

Durante o dia, o índice também renovou sua máxima intradiária, ao atingir 131.260 pontos logo pela manhã.

O Fed, que manteve os juros na faixa entre 5,25% e 5,5%, revisou para baixo suas projeções para as taxas em 2024, o que foi visto pelo mercado como sinal de que o BC americano dará início ao ciclo de cortes em breve.

— Ainda foi uma digestão da reunião do Fed, incorporando um ambiente mais otimista para a reta final do ano. Você tem um Fed que deu os primeiros passos não só para encerrar o ciclo de aperto monetário, mas também para flexibilizar a política a partir do ano que vem — disse o analista da Empiricus Research, Matheus Spiess.

Após a decisão do Fed, o Goldman Sachs antecipou sua expectativa para o início dos cortes, do segundo semestre de 2024 para março. “Prevemos agora três cortes consecutivos de 0,25 ponto percentual em março, em maio e em junho”, destacaram economistas do banco em relatório.

Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,43% e também renovou seu recorde de fechamento, aos 37.248 pontos. O S&P avançou 0,26%, e a Bolsa eletrônica Nasdaq, 0,19%.

— Apoiados pela continuidade da queda nas taxas de juros globais, os ativos de risco tiveram dia positivo — diz o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi. — O mercado local também surfou a alta das commodities.

Força das ‘commodities’

O avanço firme das ações da Petrobras sustentou a Bolsa. O papel ordinário (ON, com direito a voto) subiu 2,33%, a R$ 37,32, e o preferencial (PN, sem voto) avançou 2,17%, a R$ 35,32.

O movimento acompanhou a elevação do petróleo no exterior. A commodity foi beneficiada pela desvalorização global do dólar, também reflexo da decisão do Fed. O barril do tipo Brent, referência internacional, avançou 3,2%, a US$ 76,61.

Outros papéis ligados a commodities tiveram alta. Vale ON subiu 0,55%, a R$ 73,40 e CSN ON, 0,51%, a R$ 17,61. Usiminas PN avançou 1,51%, a R$ 8,72.

No setor financeiro, Itaú PN e Bradesco PN subiram 0,83% (R$ 32,87) e 1,71% (R$ 17,25), respectivamente.

Ao contrário do Fed, o comunicado do Copom foi lido como mais austero pelo mercado. Apesar de não trazer grandes surpresas, o texto não dá maiores brechas para uma aceleração do ritmo de cortes da Seli.

— O Banco Central, apesar de estar cortando juros, não o fará com grande velocidade — afirma Spiess.

A diferença entre os comunicados dos dois BCs deu suporte ao câmbio boa parte do pregão, com o dólar sendo negociado abaixo dos R$ 4,90. Isso porque diminuiu o receio com a eventual redução do diferencial de juros entre Brasil e EUA, que tende a prejudicar o real.

No fim do dia, o movimento perdeu força e o dólar comercial fechou em queda de apenas 0,07%, a R$ 4,9144, após atingir a mínima de R$ 4,8752.

Para Spiess, da Empiricus, ainda há espaço para que o Ibovespa busque novas altas até o fim do ano pelo nível de desconto que os papéis ainda apresentam em relação à média histórica:

— Observamos a entrada de fluxo estrangeiro. Ainda entendo que haja espaço para mais altas. A Selic deve convergir para um dígito, ainda que seja um dígito alto.

Por Vitor da Costa — Rio

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