quinta-feira, janeiro 18, 2024

Com críticas severas à Lava Jato, Lula dá início a nova etapa de obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco

Presidente Lula na cerimônia de retomada de investimentos na Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Ipojuca — Foto: Pedro Alves/g1

O presidente Lula (PT) participou, nesta quinta-feira (18), da cerimônia de retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco.

Durante discurso, Lula criticou duramente a Lava Jato e disse que a operação foi orquestrada por “alguns juízes e procuradores desse país subordinados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que não queriam e nunca aceitaram que o Brasil tivesse uma empresa como a Petrobras”.

“Quando eu deixei a Presidência eu tive as contas dos meus oito anos de governo aprovadas por unanimidade no Tribunal de Contas e no Congresso. Somente cinco anos depois começou o processo de denúncia contra a Petrobras. Não era contra a Petrobras, porque se você quisesse de fato apurar corrupção, você apurava. O que não pode punir é a soberania de um país como o Brasil, e da sua empresa mais importante”, declarou.

Lula falou ainda sobre sua prisão. “Eles me prenderam achando que ‘ele vai fazer que nem os outros, vai chorar na cadeia, vai pedir água, vai pedir para ir para casa, para ver a mulher e os filhos. Eles esqueceram que minha mulher morreu por causa deles. Chegaram com uma proposta de acordo e disseram ‘se você aceitar, a gente tira você daqui’. Eu falei ‘duas coisas vocês têm que aprender. Não troco minha dignidade pela minha liberdade. Eu não sou pombo-correio e minha canela não aceita tornozeleira. A terceira é que minha casa não é a prisão”, afirmou.

O presidente disse ainda querer que sejam chamados de volta todos os funcionários demitidos após a paralisação das obras da unidade, em 2015, a logo após o início das investigações da operação Lava Jato.

“Tem que descobrir cada funcionário que foi mandado embora daqui e traga ele de volta. Nosso lema é ninguém solta a mão de ninguém e ninguém deixa o companheiro para trás”, disse Lula, se dirigindo ao presidente da Petrobras, Jean Paul Prattes, presente ao evento.

Acompanharam o presidente na cerimônia o presidente da Petrobras, Jean Paul Prattes, os ministros Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovações), André de Paula (Pesca e Aquicultura), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), a prefeita de Ipojuca, Célia Sales (PP), o prefeito do Recife, João Campos (PSB), deputados federais e estaduais.

Investimentos de US$ 17 bilhões

Nas obras da RNEST, são previstos 17 bilhões de dólares em investimentos até 2028, mais que dobrando a capacidade de refino de petróleo e produção de óleo diesel. O retorno das obras, que estavam paralisadas desde 2015, desde o início das investigações da Operação Lava Jato, fazem parte do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A previsão do governo federal e da Petrobras é de aumentar a capacidade de processamento de barris de petróleo de 100 milhões para 260 milhões. Isso deve ocorrer em três etapas.

A primeira, já em 2025, vai aumentar a capacidade em 30 milhões de barris. As outras vão acrescentar mais 130 milhões de barris até 2028.


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As obras retomadas na solenidade desta quinta-feira são da construção do Trem 2 da refinaria, que tem data para finalização em 2028.

Além dessa, também já está em andamento a construção da primeira unidade SNOX do refino brasileiro, que será responsável por transformar óxido de enxofre (SOx) e óxido de nitrogênio (NOx) em um novo produto para comercialização. A unidade começa a operar em 2024.

Por fim, também em 2024, começam as obras para a ampliação da produção do Trem 1, que proporcionará aumento de carga, melhor escoamento de produtos leves e maior capacidade de processamento de petróleo do pré-sal. A expectativa de conclusão é no primeiro trimestre de 2025.


Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Ipojuca — Foto: Artur Ferraz/g1

Histórico da construção e operação da RNEST

Até o ano de 2015, a Petrobras havia investido US$ 18,9 bilhões na Refinaria Abreu e Lima (RNEST ), o que, na época, equivalia a R$ 66,5 bilhões. O custo previsto inicialmente era de US$ 2,4 bilhões.

O projeto foi anunciado em 2005, com a presença dos presidentes Lula e do então presidente da Venezuela Hugo Chávez;

Os dois presidentes lançaram a pedra fundamental da refinaria em dezembro deste ano;

Dois anos depois, em 2007, Chávez reclamou do atraso no cronograma, mesmo sem ter enviado recursos financeiros da Venezuela. Em setembro do mesmo ano, Lula foi até Ipojuca para acompanhar a terraplanagem do terreno e a previsão de inauguração era agosto de 2010;

Em 2009, Dilma Roussef (PT), na época ministra-chefe da Casa Civil, visitou o canteiro de obras e anunciou uma nova data de inauguração: o primeiro semestre de 2011;

Em 2010, o Tribunal de Contas da União recomendou a paralisação dos serviços, pois encontrou indícios de sobrepreço. Já a Petrobras disse que os gastos não eram abusivos;

Em 2013, a Venezuela desistiu da parceria. No final do mesmo ano, a então presidente Dilma Rousseff veio a Pernambuco e garantiu a conclusão da obra em 2014;

Em março de 2014, a Operação Lava Jato começou investigar um esquema de corrupção na Petrobras, atingindo as obras. As construtoras atrasaram os salários de 45 mil operários, houve protestos e várias demissões;

Em dezembro de 2014, a Refinaria Abreu e Lima começou a funcionar parcialmente;
Em 2016, mais de oito anos após o início das obras, apenas uma das duas unidades de refino ficou pronta;

No mesmo ano, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi condenado por fazer parte de organização criminosa e por lavagem de dinheiro, crimes ligados a desvios de recursos na construção da refinaria;

Em março de 2017, a Polícia Federal indiciou o ex-gerente da refinaria, Glauco Legatti, por corrupção passiva. De acordo com o indiciamento, ele recebeu vantagens indevidas para obter benefícios e concessões no âmbito do contrato da RNEST , nos anos de 2013 e 2014.

Presidente Lula na Refinaria Abreu e Lima - Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

Por Pedro Alves, g1 PE

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