sexta-feira, maio 08, 2015

O risco das fumigações de praguicidas


O estudo da Universidade Nacional de Río Cuarto, publicado na revista da Sociedade Argentina de Pediatria, detectou que as crianças da cidade de Marcos Juárez, na Argentina, apresentam quase 55% a mais de anomalias do que aquelas não expostas a praguicidas.

A reportagem é de Pedro Lipcovich, publicada por Página/12, 06-05-2015. A tradução é do Cepat.

Em crianças que vivem próximas de locais onde se fumiga com glifosato e outros praguicidas foram constatados danos genéticos que poderiam levar a enfermidades como a leucemia e que já estariam ocasionando sintomas como broncoespasmo e hemorragias nasais. A pesquisa – publicada na revista da Sociedade Argentina de Pediatria – foi efetuada pelaUniversidade Nacional de Río Cuarto. Em uma amostra de crianças da cidade de Marcos Juárez, na Argentina, “cercada por plantações”, registrou-se quase 55% a mais de anomalias do que naquelas não expostas a praguicidas. As alterações genéticas ocorrem mais com as crianças que vivem a menos de 500 metros das fumigações (limite permitido pela lei local), mas também são detectadas em crianças que vivem a mais de um quilômetro. Os resultados do estudo – em sintonia com estudos anteriores sobre trabalhadores rurais – apresentam várias questões urgentes: a) a distância de segurança para agrotóxicos em regiões povoadas não estaria sendo cumprida; b) mesmo que cumprida, seria insuficiente, já que se detectou um aumento de dano em crianças residentes a mais de 1000 metros das pulverizações; c) o rápido reconhecimento do problema permitiria encarar os problemas de saúde das crianças já afetadas, já que, segundo advertem os pesquisadores, os danos registrados “ainda podem ser revertidos”.

A pesquisa foi publicada em Arquivos Argentinos de Pediatria, assinado por Delia Aiassa, Nora Gorla, Alvaro Méndez, Fernando Mañas, Natalia Gentile e Natalí Bernardi, todos integrantes do grupo Genético e Mutagêneses Ambiental (GEMA), da Universidade Nacional de Río Cuarto.

Os autores destacam que “na Argentina não existem estudos que analisem os efeitos genotóxicos produzidos em crianças pela exposição a substâncias químicas”. O trabalho propõe examinar esses efeitos em crianças expostas aos praguicidas por inalação. O método utilizado é o “monitoramento genotoxicológico” que, a partir de células da mucosa bucal, detecta danos genéticos e que vem sendo aplicado em diferentes países para populações expostas a agentes tóxicos.

Os pesquisadores estudaram uma mostra de 50 crianças de Marcos Juárez, cidade de 27.000 habitantes que “é cercada por áreas cultivadas”. Afirmam que “os praguicidas mais utilizados na região são o glifosato, em suas diferentes formulações líquidas ou granuladas, e os inseticidas cipermetrina e clorpirifós em formulações líquidas”.

As idades das crianças estudadas vão de 4 a 14 anos, com uma média de 9 anos. Do total, 27 residiam a menos de 500 metros dos lugares de aplicação de praguicidas e 23 viviam a mais de 500 metros (a lei provincial 9.164 proíbe a aplicação a menos de 500 metros das áreas urbanas). Também tomaram, como grupo de controle, 25 crianças da cidade de Río Cuarto, residentes “pelo menos a 3.000 metros de áreas de pulverização com praguicidas” e “considerados não expostos”. Assim, o total de crianças testadas foi de 75,31 homens e 44 mulheres.

O teste foi realizado em células da mucosa bucal, obtidas mediante cotonetes estéreis, como já é habitual para análise de DNA. Para cada criança foi levantada “uma história clínica ambiental que interrogou sobre dados demográficos, tipo de exposição a praguicidas, patologias, sintomas persistentes e estilo de vida”.

Analisados os resultados, “verificou-se uma média de 5,20 micronúcleos (indicadores de dano genético) para cada mil células nas amostras da cidade de Marcos Juárez, contra 3,36 para cada mil nas de Río Cuarto” (55% a mais). Particularmente, na amostra efetuada em março/abril – durante pulverizações contínuas que duram de quatro a seis meses -, o indicador de dano genético em crianças da cidade de Marcos Juárez aumenta para 5,78 micronúcleos para cada mil células.

Mais ainda. Os pesquisadores compararam o dano genético em crianças que vivem até 500 metros das pulverizações, com o dano em crianças que vivem até 1.095 metros, já fora do limite legal de segurança, e se deram conta que “a frequência de micronúcleos não demonstra diferenças significativas” em relação as que vivem mais próximas: “Tratando-se de uma cidade relativamente pequena, este resultado demonstra que as pulverizações podem alcançar, por via aérea, toda a localidade, e que a população se encontra submetida a uma exposição extremamente alta e contínua, uma vez que vive rodeada pelas plantações. Este dado deveria ser levado em consideração no momento de estabelecer proteções em locais que estejam rodeados por plantações onde se pulveriza”.

Os pesquisadores destacam que “o marcador utilizado detecta um nível de dano que ainda é reversível”, o que “permite tomar as medidas necessárias para diminuir ou suprimir a exposição ao agente tóxico e, desse modo, diminuir ou prevenir o risco de desenvolver neoplasias (cânceres) e outras alterações patológicas”.

Fonte: IHU Online

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