Donald Trump e Lula dão as mãos em encontro na Malásia
Imagem: Ricardo Stuckert
Nelson de Sá - Colunista do UOL, em Kuala Lumpur*
Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, se encontraram pessoalmente hoje e tiveram uma conversa de cerca de 50 minutos em que ficou acertado que as negociações sobre as tarifas "começam imediatamente", segundo palavras do brasileiro.
O que aconteceu*
Lula e Trump se encontraram em Kuala Lumpur, na Malásia. Os dois participam da cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). Para jornalistas, Lula afirmou não querer "qualquer desavença com os EUA" e que "não há motivo para qualquer conflito entre Brasil e EUA".
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Trump deixou em aberto a possibilidade de "trabalhar em acordos" — se referindo às tarifas impostas ao Brasil. "Em relação às tarifas impostas ao Brasil, acho que tudo é justo. Tenho muito respeito pelo seu presidente, tenho muito respeito pelo Brasil. Vamos trabalhar em acordos.".
Além disso, Trump disse ser uma "grande honra" estar com Lula. "Acho que eles estão indo muito bem até onde sei. Podemos fazer bons acordos para ambos os países. Acho que nós faremos acordos. Conversamos e acho que teremos um bom relacionamento."
Pauta a ser discutida com os Estados Unidos será "longa", de acordo com o presidente brasileiro. "Na hora que dois presidentes sentam em uma mesa e colocam seu ponto de vista, a tendência é natural é se chegar a um acordo. Estava muito otimista na manutenção mais civilizada possível entre Brasil e Estados Unidos. Tenho uma longa pauta para discutir com os Estados Unidos.".
Reunião imediata para negociar tarifas
* O ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira destacou à imprensa que Trump e Lula trataram de "todos os assuntos", incluindo as tarifas. "Lula começou dizendo que não havia assunto proibido e renovou o pedido brasileiro de suspensão das tarifas impostas à exportação brasileira durante um período de negociação.".
* Reunião foi "muito positiva", disse o ministro. "O saldo final é ótimo. Trump declarou que dará instruções à sua equipe para que comece um processo de negociação bilateral, que pode ser iniciada hoje ainda. Hoje mesmo devemos ter um encontro.".
* Conversa entre os presidentes foi descrita por Vieira como "descontraída" e "muito alegre". "Trump declarou admirar o perfil da carreira política do presidente Lula, tendo sido, por duas vezes, presidente da República, tendo sido perseguido no Brasil, tendo provado sua inocência e voltado a conquistar seu terceiro mandato como presidente da República.".
* Lula usou o X para comentar a conversa. Em postagem, o presidente brasileiro afirmou que foi discutida a agenda comercial e econômica e informou que as equipes vão se reunir para discutir as tarifas e sanções imediatamente.
* Este é o primeiro encontro formal entre os dois. Antes disso, Lula e Trump só tinham se cruzado brevemente na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Na ocasião, o americano disse logo em seguida durante seu discurso que "pintou química" entre eles.
* Presidentes já tinham conversado por telefone. Lula e Trump se falaram por uma chamada telefônica durante 30 minutos no dia 6 de outubro. Nesta conversa, Lula solicitou a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras.
* Trump postou que "gostou da conversa". O presidente afirmou que teve um "bom telefonema" com Lula e disse que "países vão se sair bem juntos".
* Na sequência, chanceleres se encontraram. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, tiveram uma reunião de uma hora no dia 16 de outubro. Os dois países avaliaram que a reunião foi boa.
Encontros são estratégicos para relação entre os países
* Relação entre os países ficou estremecida após sanções e tarifas impostas pelos EUA. Com articulação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o país anunciou sanções contra autoridades e aumentou as taxas sobre produtos importados do Brasil.
* Inicialmente Brasil havia sido submetido a uma taxação de 10%. Quando anunciou a nova política de tarifas sobre produtos importados, em abril deste ano, este valor foi o mínimo imposto por Trump a outros países.
* Avanço do julgamento da trama golpista no Brasil motivou aumento na taxa. Em julho, taxação sobre produtos brasileiros passou a 50%. A justificativa foi que ações do governo brasileiro prejudicavam "empresas americanas e os direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos".
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No mesmo mês, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes foi sancionado com a Lei Magnitsky. Antes, Moraes, sete outros ministros e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, já tinham tido seus vistos americanos cancelados.
* Condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro também motivou sanção. Desta vez, a lei Magnitsky foi aplicada à esposa de Alexandre de Moraes, a advogada Viviane Barci de Moraes, e ao instituto Lex, ligado à família.
* Governo brasileiro disse que não aceitaria interferência. Mauro Vieira afirmou que soberania brasileira "não é moeda de troca diante de exigências inaceitáveis".
* Lula chegou a autorizar reciprocidade. Aplicação de tarifas recíprocas pelo Brasil foi comunicada aos Estados Unidos, mas não chegou a entrar em vigor.
*Colaborou Luccas Lucena, do UOL, em São Paulo.