quinta-feira, junho 19, 2025

De personalidades a deputados e investigadores do caso Marielle: veja lista de monitorados pela Abin Paralela, que Segundo a PF o esquema era feito para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil 

Por Vinícius Cassela, Luiz Felipe Barbiéri, g1 — Brasília


O relatório final da Polícia Federal sobre a investigação que apura um monitoramento ilegal de autoridades pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) apontou o uso de ferramentas do órgão para espionar uma série de personalidades, como deputados, investigadores e até caminhoneiros.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes tirou o sigilo do relatório nesta quarta (18). A PF indiciou mais de 30 pessoas. Para os investigadores, a Abin foi utilizada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro para fins políticos e pessoais.

A lista de indiciados entregue ao STF inclui o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, o ex-diretor da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem — ambos do PL — e o do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa.

O esquema de monitoramento irregular ficou conhecido como Abin paralela e mirou também jornalistas. Um dos métodos utilizados para a espionagem irregular era o monitoramento por meio de um software israelense chamado “First Mile”.

A tecnologia, da empresa israelense Cognyte (ex-Verint), foi comprada pelo governo brasileiro e usava GPS para monitorar irregularmente a localização de celulares de servidores públicos, políticos, policiais, advogados, jornalistas e até mesmo juízes.



PF afirma que Jair e Carlos Bolsonaro integravam núcleo da ‘Abin paralela’


Monitoramento político

O relatório da Polícia Federal atribui a Ramagem o ordenamento do uso do programa “First Mile” para monitorar ilegalmente adversários políticos e críticos do governo.

Entre os pedidos diretos de Ramagem, estão o monitoramento e ações que buscavam “caçar os podres” de Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara e da então deputada Joice Hasselmann, antiga aliada de Bolsonaro que passou a desafeto do ex-presidente.

A PF também aponta que foram alvo de “dossiês” da Abin:

* Alexandre de Mores, ministro do STF;

* Luis Roberto Barroso, presidente do STF;

* deputado Kim Kataguiri (União-SP);

* deputado Arthur Lira (PP-AL);

* senador Renan Calheiros (MDB-AL);

* senador Omar Aziz (PSD-AM);


 *senador Randolfe Rodrigues;


De acordo com o inquérito, o pedido de monitoramento dessas autoridades partiu da presidência da República e "comprova o viés precipuamente político da ação clandestina".

Caso Marielle

Outra utilização feita da Abin foi para o monitoramento do homicídio da ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, assassinada em 2018.

Em 2020, quando a Polícia Civíl carioca trocou o delegado do caso, o então diretor-geral, Alexandre Ramagem, pediu para que a equipe fizesse um dossiê sobre o novo delegado, Daniel Freitas da Rosa.

A agência também foi usada para monitorar Simone Sibilio, ex-coordenadora da força-tarefa do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) que investigou as mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes.

De acordo com o inquérito, o monitoramento da investigação ocorreu para antecipar eventuais referências que indevidamente vinculassem ao Núcleo Político que comandava a agência.

Caso Adélio Bispo

Já em março de 2022, Ramagem pediu para Marcelo Bormevet analisar todos os dados disponíveis sobre o caso de Adélio Bispo, que tentou matar o ex-presidente Bolsonaro.

"Coisa simples. Como está agora. Em que ponto relatoria, quebras, etc. Acredito que tenha tudo em fonte aberta. Preciso saber a condição dele no sistema prisional, onde está. Há quanto tempo. A quebra do tel de advogados. Para hoje à noite", diz o pedido.

Em um dos documentos encontrados sob posse de Ramagem, ele relata o desejo de interferir na Polícia Federal para modificar os rumos da investigação sobre o caso.

"Coloquei na PF a linha de que essa investigação tem que ser toda verificada desde o início. Correição permite. Passei ao Corregedor-Geral. Estou esperando a resposta. Eu cobro, mas não anda", redigiu o deputado em nota.

Monitoramento de personalidades


O ex-deputado Jean Wyllis — Foto: Isabela Marinho / G1

O ex-deputado Jean Wyllys e o humorista Gregório Duvivier também foram monitorados a pedido da presidência, o que se comprova a partir de uma troca de mensagens de Giancarlo, que estava fisicamente no GSI no momento.

“Fala, amigão. Eles são muito ariscos. Trocam de chip a todo instante. Mas consegui um número que o Jean usou para baixar o Telegram. O DDD era do Cear. Já deve ter mudado, mas pode ser um bom ponto de partida. Podemos puxar o CPF dessa linha e ver se habilitaram outros telefones nele. Ele também tem o site e o Instagram. Estou em cima. Parece que estão usando Signal”, afirmou um dos agentes.

A tentativa de identificar a localização de Jean Wyllys ainda em 2019, nos primeiros meses de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entretanto, ela não foi efetiva, porque o ex-deputado federal estava nos Estados Unidos e o contrato para uso do First Mile impede que o programa seja usado para monitoramento no país ou em Israel, mas libera para o restante do mundo.

Após a tentativa frustrada, os agentes partiram para investigar familiares de Wyllys, como uma de suas irmãs.

Outro nome investigado foi o do humorista Gregório Duvivier, que tinha um programa que criticava a “difusão de desinformação do antigo governo”.

“Quero ver se será tão machão perante o juiz, Gregógio Duvivier. A Hydra já pegou seus dados e mandou às pessoas competentes”, afirmou o perfil de um dos denunciados pelo inquérito, Richards Pozzer.

Monitoramento de jornalistas

O programa também foi usado para monitorar jornalistas que atuavam investigando a atuação do governo e tentavam escancarar a existência do gabinete paralelo, como o caso da jornalista Luiza Alves Bandeira.

Outro jornalista monitorado, Pedro Cesar, virou alvo da Abin por ser um dos responsáveis pelo ato "Fora Bolsonaro".

A PF aponta ainda o monitoramento dos jornalistas Vera Magalhães, Luiza Bandeira, Pedro Batista, Reinaldo Azevedo e Alice Martins de Costa Maciel, que segundo os agentes é uma “jornalista left” responsável por fazer trabalhos investigativos.

Renan Bolsonaro


Jair Renan Bolsonaro foi eleito vereador em Balneário Camboriú — Foto: Divulgação

A Abin também foi utilizada, de forma clandestina, para interferir nas investigações da Polícia Federal contra o filho do ex-presidente.

Além disso, a agência recebeu um pedido para “caçar podre” de Allan Gustavo Lucena do Norte, ex-sócio e personal trainer de Jair Renan Bolsonaro, o filho 04.

Os agentes chegaram, até, a fazer vigilância do ex-sócio, que desconfiou da movimentação e chamou a Polícia Militar, que deteve um dos agentes, que acabou fugindo para não ser levado à Polícia Civil.

"A determinação da diligência partiu do Palácio do Planalto, na figura do Gabinete de Segurança Institucional e foi realizada diretamente pelos policiais federais cedidos, que respondiam diretamente ao Diretor-Geral, sem a participação de servidores orgânicos", afirmou o inquérito.

A ação frustrada acabou resultando num relatório de inteligência da agência, que acabou sendo ignorado por ser "pobre de conteúdo" e "desnecessário", já que não atendeu aos interesses naturais da Abin.

Por Vinícius Cassela, Luiz Felipe Barbiéri, g1 — Brasília

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