“Tudo o que ele queria eram as mesmas respostas que o restante de nós: De onde venho? Para onde vou? Quanto tempo me resta?”. A voz em
off de Harrison Ford, em
Blade Runner, procura explicar o motivo pelo qual o caçador de replicantes foi perdoado pelo último replicante. Esta reflexão do filme serve de ponto de partida para entrar no trabalho de
Carles Feixa (foto), doutor em antropologia social, pela Universidade de Barcelona, e autor de vários livros sobre a juventude, o último deles
De la geración@ a la #geración. La juventude en la era digital. Para Feixa, “a grande contradição de nossa sociedade é que os jovens querem ser adultos e lhes permitem, e os adultos querem ser jovens e não podem”. Isso nos assemelha com os replicantes e os caçadores de replicantes, de Blade Runner, pois os jovens são perseguidos pelos adultos, que os amam e os temem. Conversamos com Feixa sobre esta relação esquizofrênica.
A entrevista é de Pablo Elorduy, publicada pelo jornal
Diagonal, 03-03-2015. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Um século após nascer este conceito, o que significa ser jovem?Uma das citações que inicia o livro é de um manifesto surgido a partir do 15M, que se centra na crítica ao conceito de juventude. Os jovens atuais resistem ou se opõem à noção de juventude como o mito da impossibilidade de se mover para o mundo adulto, como a permanência em um estado de moratória social, como foi definido, há um século, nos inícios da psicologia atual. Stanley Hall foi um psicólogo norte-americano que publicou, há um século, um livro sobre a adolescência, no qual definia a juventude como uma nova etapa de vida. Ele a via como algo positivo em seus efeitos, ainda que não em suas manifestações. Hall definia a juventude como uma crise de identidade. Outro Hall, Stuart Hall, que é uma referência em estudos subculturais nos anos 1970 e 1980, junto a outros companheiros da escola de Birmingham, redefiniu a noção de juventude como categoria cultural. Para Stanley Hall era uma categoria biológica, para Stuart Hall, Tony Jefferson, etc., era uma construção cultural do capitalismo avançado, que respondia, por um lado, algumas necessidades do mercado de consumo e das indústrias culturais e, por outro, uma autodefinição dos próprios jovens. Por isso, pesquisaram as chamadas subculturas e contraculturas dos anos 1960 e 1970:
hippies,
rockers,
mods, etc.