João Zinclar (1957-2013), natural de Rio Grande (RS), foi metalúrgico e sindicalista e por isso se considerava um operário da fotografia. Nos últimos anos de sua vida dedicou-se a fotografar o rio São Francisco, os povos que habitam as suas margens e as paisagens sertanejas.
Flávio José Rocha da Silva é doutorando em Ciências Sociais na PUC-SP e bolsista CNPq.
O singular não combina com o livro O rio São Francisco e as águas no sertão (Sivamarts Gráfica e Editora, 2010), de autoria do fotógrafo João Zinclar. São 191 fotografias com imagens registradas entre janeiro de 2005 e junho de 2010, durante os mais de 10 mil quilômetros percorridos pelo fotógrafo em oito Estados brasileiros pela região das águas sanfranciscanas e outras áreas do Semiárido nordestino.
As fotografias de Zinclar gritam a morte do Velho Chico ao mesmo tempo em que declamam a sua beleza. Denunciam o descaso com aquele manancial e anunciam as promessas para a sua revitalização capitaneada pelos movimentos sociais daquela região. Delatam os que dele sugam todas as energias para as múltiplas atividades econômicas que lá ocorrem e rendem homenagens àqueles e aquelas que, em comunhão com o Velho Chico por entenderem a imbricação vital entre um rio saudável e um povo ribeirinho feliz, lutam na defesa de sua preservação. Para Siqueira (2010, p. 21), o “Aprendizado fundamental desta viagem fotográfica é que o olhar que fotografa e por extensão o que vê a foto, implica em uma postura que para além da fruição artística, é atitude política, assumidamente.” E essa atitude tem, com certeza, relação com o passado de engajamento com sindicatos e partidos de esquerda do fotógrafo.