sexta-feira, novembro 06, 2015

O Vaticano contra-ataca e adverte que continuará a limpeza


A melhor defesa é o ataque. Com um sacerdote espanhol em uma cela por subtrair documentos confidenciais, cercado por acusações de manobras financeiras suspeitas, com as revelações sobre o esbanjamento de montanhas de dinheiro por parte de cardeais e o uso indevido de propriedades imobiliárias valorizadas em milhares de milhões de euros – que alguns políticos italianos alugam por moedas -, nepotismo e corrupção, o Vaticano saiu, ontem, para o contra-ataque.

A reportagem é de Elisabetta Piqué, publicada por La Nación, 05-11-2015. A tradução é do Cepat.

“O caminho da boa administração, da honradez e da transparência continua e avança sem incerteza. É esta evidentemente a vontade do papa Francisco”, sentenciou o padre Federico Lombardi, porta-voz daSanta Sé.

“O papa Francisco está sereno. As notícias sobre a investigação [por subtração de documentação reservada] obviamente não são fonte de alegria, mas com sua experiência entende que existem dificuldades na vida. Por outro lado, o Papa sabe perfeitamente o que fazer, sabe qual é a sua missão”, acrescentouLombardi.

Com o propósito de enfatizar que o Papa está mais determinado que nunca a levar adiante as reformas em curso, como já havia afirmado o substituto da Secretaria de Estado, Angelo Becciú, Lombardi minimizou as revelações do denominado Vatileaks. Ou seja, os documentos reservados e inclusive gravações realizadas e vazadas, que aparecem em ‘Via Crucis’ e ‘Avarizia’, dois livros que passam a ser vendidos, hoje, na Itália, em meio a grande expectativa.

Tais textos deixam visível a enorme resistência a respeito de sua vontade de transparência e de uma “Igreja pobre e para os pobres”. “O caixa não está em ordem, é preciso colocar um pouco de ordem no caixa”, disse o Papa, alarmado, aos cardeais, em uma reunião gravada clandestinamente, no dia 3 de julho de 2013, segundo uma prévia de ‘Via Crucis’.

Para além destas chamativas palavras papais, Lombardi afirmou que não há nada de muito novo nos dois livros, escritos tendo como base o material vazado do coração do Vaticano.

“Trata-se de informação já conhecida, ainda que às vezes com menos amplitude e detalhes”, disse o porta-voz, que ressaltou, por outro lado, que “a documentação publicada se relaciona com um notável compromisso de coleta de dados e informações, colocada em marcha pelo próprio Santo Padre, para fazer um estudo de reforma e melhoria da situação administrativa do Vaticano e da Santa Sé”.

De fato, Lombardi recordou que essa informação saiu do arquivo da comissão criada pelo Papa justamente para isso, no dia 18 de julho de 2013, que foi dissolvida meses mais tarde. Seu secretário era o espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda, preso durante o fim de semana pela gendarmaria vaticana, juntamente com Francesca Immacolata Chaouqui, questionada lobista de 33 anos, depois liberada.

Investigação

No momento, os dois são os únicos acusados de serem os “corvos”, ou seja, os culpados de ter passado a informação reservada aos autores dos livros, traindo a confiança do Papa. No entanto, a investigação da gendarmaria vaticana continua e se acredita que podem cair peixes mais gordos.

Embora tenha admitido que ainda restam “ilegalidades para se eliminar”, Lombardi também enfatizou, em uma declaração, os avanços realizados até agora.

“A reorganização dos dicastérios econômicos, a designação do revisor geral, o funcionamento regular das instituições competentes para o controle das atividades econômicas e financeiras são uma realidade objetiva e irrefutável”, afirmou.

Além disso, o porta-voz papal criticou duramente os dois livros que atiçaram a tormenta que sacode o Vaticano: ‘Via Crucis’, de Gianluigi Nuzzi, e ‘Avarizia’, de Emiliano Fittipaldi.

“Uma publicação desordenada, com uma grande quantidade de informações, em parte relacionadas com uma fase de trabalho já superada, sem a necessária possibilidade de aprofundamento e avaliação objetiva”, apontou.

As obras em questão atingem o resultado, “lamentavelmente em boa parte desejado, de criar a impressão contrária, de um reino permanente de confusão, de não transparência”, acusou.

Falsa imagem

Independente do contra-ataque da Santa Sé, o Vatileaks II seguiu dando o que falar.

“Está se desenhando um cenário que, do meu ponto de vista, não é verdadeiro, de um Vaticano sem um governo forte ou até irreformável”, disse o historiador Andrea Riccardi, da Comunidade de Santo Egídio, ao Huffington Postitaliano.

“Mas, acredito que o Papa desfez equilíbrios atávicos, talvez corruptos, e há reações pesadas em seu interior”, acrescentou Riccardi.

Em questões que não estão relacionadas com o Vatileaks II e que são reflexo de que a vontade de reforma, em prol da transparência, continua mais viva que nunca, o Vaticano também anunciou a nomeação de um novo conselho de administração para o Hospital Pediátrico Bambino Gesù.

Sua imagem se viu manchada por documentos que apontam que o dinheiro destinado a esta instituição do Vaticano foi utilizado, ao contrário, para pagar os gastos de reforma de um luxuoso terraço da residência do cardeal Tarcisio Bertone, segundo informação do livro ‘Azarizia’.

Sempre com o objetivo de transparência financeira, também há a informação que após um relatório da Autoridade de Informação Financeira (AIF), o promotor de justiça do Vaticano decidiu colocar sob a lupa um banqueiro italiano,Gianpietro Nattino.

A suspeita é que, na época anterior ao pontificado de Francisco, Nattino tenha utilizado a APSA – entidade que se ocupava da administração do patrimônio da Sé Apostólica, mas que agora, com as reformas, tornou-se uma espécie de banco central do Vaticano – para “lavagem de dinheiro, ‘insider trading’ e manipulação do mercado”.

Fonte: IHU Online

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