sexta-feira, agosto 28, 2015

Ser humano é o maior predador e mata até 14 vezes mais que outros animais

Homo sapiens destructor

Se você tem dúvidas sobre o que a ciência entende por superpredador, mire-se no espelho.

Um estudo publicado pela revista "Science" mostra que a enorme pressão exercida pelo ser humano sobre as populações animais, tanto terrestres quanto marinhas, faz dele um predador único, a ponto de desequilibrar totalmente os ecossistemas e as cadeias alimentares, bem como de provocar extinções em massa.

A reportagem é de Audrey Garric, publicada pelo jornal Le Monde e reproduzida pelo portal Uol, 25-08-2015.

A ideia de uma exploração extrema da fauna selvagem já foi amplamente documentada. Mas os trabalhos da equipe de Chris Darimont, da Universidade de Victoria, no Canadá, procuraram analisar essa lista de vítimas sob um prisma diferente: comparando o impacto do homem com o de outros predadores não humanos.

Para isso, os cientistas analisaram mais de 300 estudos feitos sobre 2.125 casos de predação contra espécies selvagens (peixes e mamíferos terrestres) de cada continente e oceano, com exceção da Antártida.

Os resultados são bem esclarecedores: os humanos vêm explorando os peixes a uma taxa 14 vezes superior, em média, à de outros predadores marinhos. Eles também matam grandes carnívoros – como ursos, lobos e leões – em um ritmo 9 vezes superior ao ritmo em que esses predadores se matam uns aos outros na natureza.

Isso significa, na prática, que a indústria da pesca captura 78% da população adulta de salmões do Alasca por ano, contra os 6% que são pegos pelos ursos-cinzentos, os maiores predadores dessa espécie. Ou ainda que a cada ano caçamos 32% dos pumas americanos, contra 1% dos que são mortos por seus congêneres.

Essa pressão se exerce em diferentes intensidades dependendo da região. Assim, os caçadores norte-americanos e europeus matam herbívoros em taxas respectivamente 7 e 12 vezes mais elevadas que os caçadores africanos. Além disso, o impacto da indústria da pesca é três vezes mais pronunciado no oceano Atlântico que no Pacífico.

O estudo também inovou ao comparar as taxas de predação de acordo com os níveis tróficos das presas – em outras palavras, o lugar que um organismo ocupa na cadeia alimentar, que vão desde plânctons até os carnívoros que só se alimentam de carnívoros. Surpreendentemente, descobriu-se que os humanos exercem na terra uma pressão bem maior sobre os grandes carnívoros do que sobre os herbívoros, e isso mesmo sem consumi-los.

Em compensação, no mar o impacto do homem é elevado em todos os níveis, quer se trate da pesca de anchovas e de arenques ou da caça aos tubarões e atuns. As capturas de peixes, que vêm aumentando apesar da sobre-exploração das espécies, hoje passam de 100 milhões de toneladas por ano.

Focar nos indivíduos mais jovens

"Esse trabalho de análise gigantesco mostra com precisão que se captura demais, e assim as espécies não conseguem renovar suas populações", diz Franck Courchamp, diretor de pesquisas em ecologia no Centro Nacional de Pesquisa Científica. "Ao contrário de outros predadores que são naturalmente regulados pelo número de presas, nós subsistimos graças ao grande número de espécies existentes. E como somos onívoros, o que significa que não dependemos de presas para sobreviver, estas vêm diminuindo sem que isso nos leve a diminuir a pressão."

Mas para além dessas quantidades colossais, o que diferencia o humano dos outros predadores e faz dele um superpredador de comportamento "insustentável", segundo o estudo, é o fato de que ele mira presas adultas, e não jovens.

"Os outros predadores em geral matam os jovens e os frágeis, ou seja, aqueles que não se reproduzem. Já nós extraímos os maiores animais, sobretudo como troféus de caça, que representam as populações mais maduras e reprodutoras", lamenta Heather Bryan, pesquisadora no Instituto Hakai da Universidade de Victoria e uma das coautoras do estudo. "Isso tem um duplo impacto sobre a população explorada, por causa das capturas diretas e do déficit de reprodução para o futuro".

Os cientistas têm feito um apelo para que se mudem as técnicas de caça e de pesca, trocando o foco para os indivíduos jovens, uma ideia que vai de encontro às recomendações atuais. E, mais importante, a predação humana precisa diminuir consideravelmente. "Os níveis descritos pelos cientistas como sustentáveis ainda são elevados demais", diz a bióloga. "Deveríamos nos inspirar no comportamento dos predadores não humanos, que representam modelos de sustentabilidade a longo prazo."

Fonte: IHU Online

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