domingo, agosto 31, 2014

Direitos não humanos. Artigo de Massimo Di Felice

Em vez de colonizar o não humano, criando e aplicando leis e normas humanas ao que humano não é, se faz necessário começar a pensar a internet não como uma realidade separada, nem como um mundo virtual, mas como um ecossistema vivo e complexo que já habitamos.

"Nossa interação com as redes digitais está criando uma nova humanidade. As leis dos homens valem para mediar essa simbiose com as máquinas?", escreve Massimo Di Felice, professor da USP e coordenador do Centro Internacional de Pesquisa Sobre Redes Digitais Atopos em artigo publicado pelo O Estado de S. Paulo, 24-08-2014.

Segundo ele, "se entre nós existe uma memória capaz de esquecer ou de remover, no campo digital, entre os arquivos e as arquiteturas interativas, ao contrário, as memórias tendem a ser eternas, não esquecem e não apagam e, portanto, não preveem o esquecimento. Reivindicar a supremacia do sujeito humano e os seus direitos sobre as máquinas significa não ter compreendido a qualidade da questão".

"O que as redes e os contextos digitais nos oferecem - afirma o pesquisador - é a condição singular de nos encontrarmos diante de um novo tipo de fronteira do pensamento diante da qual é preciso assumir outra atitude. Seria necessário, em vez de colonizar o não humano, criando e aplicando leis e normas humanas ao que humano não é, começar a pensar a internet não como uma realidade separada, nem como um mundo virtual, mas como um ecossistema vivo e complexo que já habitamos e que, pela sinergia simbiótica entre a inteligência humana e a artificial, depois de já ter criado outro gênero de social, está criando outro tipo de humanidade conectando esta última a tudo o que existe, proporcionando-nos, desse modo, a possibilidade de um outro tipo de futuro".