segunda-feira, janeiro 22, 2018

Túlio Gadêlha desabafa sobre sua demissão; confira a íntegra da carta

Em viagem ao Sertão de Pernambuco, Túlio Gadêlha, o namorado da jornalista e apresentadora de TV Fátima Bernardes, concedeu entrevista exclusiva ao blogueiro Assis Ramalho, no programa "Acordando com as Notícias", transmitido pela Web Rádio Petrolândia (Foto: Lúcia Xavier).

O ex-presidente do Iterpe, Túlio Gadêlha, que foi exonerado do cargo na última sexta-feira, após pressão de deputados inconformados com suas movimentações pelo interior, divulgou uma carta em tom de desabafo, nesta segunda (22). No texto, coloca que "o que fica de verdade como real motivo pela minha exoneração, não são ajustes administrativos, mas, sim, um ajuste partidário e eleitoreiro, para perpetuar os desajustes que tanto maculam o nosso ambiente político".

"Isso me fez perceber, ainda com mais clareza, a urgência de uma verdadeira reforma política. Inclusive, é preciso não somente uma reforma, mas também é preciso mudar a forma de se fazer política no Brasil. Não é mudar apenas o nome, mas, sim, as práticas. A política deve servir para organizar a sociedade com representantes comprometidos em fazer uma gestão do bem público para o público e com qualidade", colocou o ex-gestor, que foi informado de sua demissão por telefone.

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Ao viajar para Petrolândia e Petrolina na semana passada, o namorado da apresentadora global Fátima Bernardes fez vários anúncios e concedeu entrevista à Web Rádio Petrolândia. Porém, esqueceu de avisar sobre a agenda aos políticos que possuem votos na região. O resultado: Em um grupo do whatsapp, frequentado por aliados do Palácio, só se falava que a fama teria subido à cabeça de Gadêlha. Ele passou a ser visto como uma ameaça interna, diante da possibilidade de se candidatar na eleição deste ano. Não demorou muito, um grupo de deputados inconformados com sua postura se uniu e foi em comitiva pedir a cabeça do presidente do Iterpe para o governador Paulo Câmara.

Confira a íntegra da carta:

“AJUSTES ADMINISTRATIVOS”

Na sexta-feira, 19 de janeiro de 2018, tomei ciência, por telefone, da minha exoneração do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Pernambuco (ITERPE). Pelo trabalho que vínhamos desempenhando e por muito o que tínhamos como compromisso para firmar, o sentimento de frustração me visita. Ao mesmo tempo, sou grato pelos 79 dias de serviço prestado a esse povo de mãos calejadas. Muito trabalho ainda há por fazer para que a população camponesa viva com dignidade e justiça, mas entrego o ITERPE com a serenidade de quem prezou por sua missão: regularização fundiária, aquisição e redistribuição de terras, investimentos produtivos e de infraestrutura nos assentamentos públicos estaduais.

Um seminário de avaliação e planejamento marcou o início da minha gestão. Dediquei-me a escutar e entender o servidor da sede e de cada unidade regional, e assim, construir uma gestão participativa e horizontal. Entre as ações realizadas, cito: a) visita e fiscalização de assentamentos de todas as regiões do Estado; b) assinatura de convênios que beneficiarão milhares de pessoas com acesso à terra, água e assistência técnica; c) liberação de recursos através do Banco do Nordeste para o desenvolvimento de dezenas de unidades produtivas; d) retomada do Programa de Crédito Fundiário, depois de anos inerte; e) construção de um plano de trabalho para emissão e regularização do CAR (Cadastro Ambiental Rural) em todos assentamentos; f) estudo para identificaçãodos assentamentos mais necessitados para reconhecimento junto ao INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e posterior liberação de crédito para atividades agrícolas; g) medição e demarcação de centenas de áreas para a regularização fundiária; h) composição de uma comissão para resolução de conflitos agrários; i) assinatura de convênio com o Governo Federal para a reestruturação da frota de veículos do Instituto; j) início das notificações extrajudiciais aos parceleirosirregulares, de pessoas tidas como assentadas, que estão em posse da terra, mas que não preenchem os pré-requisitos socioeconômico estaremlá. Além disso, demonstramos a necessidade de instalar o ITERPE em estruturas mais adequadas, visando a saúde, segurança e valorização do servidor, mudança que deve acontecer em fevereiro.

Em pouco mais de dois meses de gestão, vi o que parece ser pouco se transformar em muito. Nesse período de intenso trabalho e entrega, encontrei em cada camponês e camponesa um professor e uma professora. Passei a compreender, ainda com mais força, as necessidades ancestrais que permeiam a vida daquelas e daqueles que enxergam no meio rural a sua identidade e a sua dignidade.

Aliás, por tudo o que tem sido dito e especulado, o que fica de verdade como real motivo pela minha exoneração, não são ajustes administrativos, mas, sim, um ajuste partidário e eleitoreiro, para perpetuar os desajustes que tanto maculam o nosso ambiente político. Isso me fez perceber, ainda com mais clareza, a urgência de uma verdadeira reforma política. Inclusive, é preciso não somente uma reforma, mas também é preciso mudar a forma de se fazer política no Brasil. Não é mudar apenas o nome, mas, sim, as práticas. A política deve servir para organizar a sociedade com representantes comprometidos em fazer uma gestão do bem público para o público e com qualidade.

Representantes conscientes de que o acesso à terra, saúde, educação, transporte, cultura são direitos inalienáveis, e não mercadorias ou moeda de troca para obtenção de votos. É essa a política que eu faço: comprometida com os interesses do público e das pessoas comuns que constroem o nosso país.

A minha trajetória demonstra o quanto concordo com Francisco Julião: "É agitando que se transforma a vida, o homem, a sociedade, o mundo. O crime não está em agitar, mas em permanecer imóvel", pensamento registrado durante exílio no México, no período da Ditadura Militar no Brasil (1964 - 1985).

É preciso unir a política à moral e à ética. Isso faz com que o Estado tenha como virtude assegurar acesso a direitos, não só de forma igualitária, mas, principalmente, equitativa, cuidando primeiro de quem precisa mais. É natural de quem constrói consciência a luta contra as opressões, atuando de forma ética em cada espaço ocupado, nas ruas e nas instituições.
Sonho, acordo e entrego meu corpo à luta por um estado assentado na ética, na transparência, na garantia dos direitos, na laicidade, fazendo um trabalho para a coletividade. Essa é a agitação que eu quero fazer. Uma agitação que transforma a vida do nosso povo com dignidade. Outra política não me interessa.

A todas e todos que estiveram comigo, meu mais profundo agradecimento. As necessidades vistas e sentidas, reforçam ainda mais o compromisso de continuar a luta por melhorias na vida de cada mulher e de cada homem do campo que conheci.(Túlio Gadêlha)

Por: Daniel Leite
Folha de Pernambuco

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