terça-feira, outubro 25, 2016

Estudo da Codevasf com uvas da Califórnia deve ampliar renda de produtores no Vale do São Francisco

Experimentos na Bahia e Pernambuco com variedades importadas estimam aumento de até 15% na produção, redução de 10% nos custos e lucros até 25% maiores (Fotos: Grapery Grapes/Divulgação)

As variedades de uva de mesa para plantio em escala comercial no Submédio São Francisco, fronteira da Bahia com Pernambuco, saltaram de três para quatorze. Esse é o resultado de quatro anos de avaliação e 73 cultivares testadas numa parceria entre a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco, um convênio de R$ 3 milhões. Os recursos são oriundos de destaque orçamentário da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional (SDR/MI), e do Governo do Estado de Pernambuco. O objetivo do projeto é proporcionar uma diversificação nas variedades de uva de mesa, possibilitando maior ganho ao produtor.

“Do total, onze variedades foram selecionadas para plantio em escala comercial, sendo que, deste montante, apenas uma contém semente”, explica Osnan Soares Ferreira, engenheiro da Codevasf em Petrolina responsável por acompanhar o projeto. As variedades selecionadas foram Cotton Candy, Jacks Salute, Sugar Crisp, Sweet Celebration, Sweet Globe, Sweet Jubillee, Sweet Mayabelle, Sweet Sapphire, Sweet Sunshine, Sweet Surprise e Timco. Todas são patenteadas por empresas agrícolas estrangeiras.

Entre as principais características observadas pelos técnicos que participam dos estudos de adaptação agronômica de novas cultivares de uva em fazendas de Juazeiro, na Bahia, e de Petrolina, em Pernambuco, estão o aumento na produtividade, maior tolerância à chuva, redução nos custos de manejo, melhoria na qualidade e maior resistência a pragas e doenças.

“Os resultados apontam para um aumento de produção de 10 a 15%, dependendo de fatores como boas práticas de produção, adubação etc. A redução nos custos de manejo é estimada em torno de 10%. Os frutos apresentam melhor firmeza, crocância e aparência, além de um maior brix (grau de açúcar)”, explica Osnan Ferreira. Quanto ao valor agregado, o engenheiro afirma que os produtores podem obter uma lucratividade média de 20 a 25% no plantio das novas variedades.

Atualmente, os estudos são desenvolvidos numa área de 4 hectares. No entanto, com a seleção das onze variedades, novas áreas de estudo foram incluídas para testes de ajuste do sistema de produção visando aumentar a produtividade e a qualidade da uva, além da rentabilidade econômica. O aumento da área deve-se também à necessidade de testes de manejo e definição de protocolo.

Com os resultados positivos alcançados pelo projeto, a Codevasf planeja agora a realização de mais um evento para divulgar o estudo e suas conclusões. “A proposta é fazermos um grande evento de ampla divulgação para que os técnicos e produtores da região tomem conhecimento dessas variedades estudadas, seus diferenciais e como adquirir as mudas para plantio”, explica Osnan Ferreira. “Vamos oferecer ao produtor o pacote tecnológico: onde adquirir a muda, a metodologia de plantio, os insumos necessários ao cultivo”, acrescenta.

Mudança no cenário

Para Osnan Ferreira, é notório que houve uma mudança no cenário da viticultura na região. “Antes do projeto, os produtores dispunham de três variedades comerciais sem semente – Crimson Seedless, Thompson Seedless e Sugraone. Estima-se que atualmente a região apresente um total de 1 mil hectares de áreas com novas variedades, e o cultivo delas possibilitou também a produção de duas safras ao ano, com uma colheita em abril/maio e outra em outubro/novembro”, destaca o engenheiro.

É o caso das Fazendas Labrunier, localizadas em Casa Nova e Juazeiro, na Bahia, e em Petrolina e Lagoa Grande, em Pernambuco. “Hoje, são cerca de 400 hectares plantados com variedades de uva resultantes da parceira. A fazenda foi a pioneira”, explica Osnan Ferreira.

De acordo com informações das Fazendas Labrunier, são cerca de 90 novas variedades de uvas selecionadas para plantio em áreas-teste para desenvolvimento nas condições de Petrolina. Nas demais fazendas, as variedades aprovadas já passaram do campo experimental à produção em escala comercial. Todas atendem aos principais requisitos, como sabor diferenciado, alta produtividade, maior resistência às pragas, menor necessidade de manejo e boa resistência no pós-colheita.

Para viticultores dos projetos públicos de irrigação geridos pela Codevasf na região, a inserção de novas variedades de uva é bem-vinda, pois possibilita a abertura de mercado e aumento na geração de renda, dentre outros benefícios. “A introdução de novas variedades sempre traz uma expectativa positiva para os produtores, pois ganhamos mais opções para cultivo. É possível apostarmos em aumento de produtividade, por exemplo, além de melhoria na renda e viabilidade de produção”, comenta Valter Matias de Alencar, gerente-executivo do Distrito de Irrigação de Maniçoba (DIM), localizado em Juazeiro.

O projeto público de irrigação é um dos grandes produtores de uva da região. No local, o cultivo da fruta é todo voltado para o mercado externo. A produção, em 2015, foi de aproximadamente 9 mil toneladas nos lotes empresariais e familiares, atingindo um valor bruto de cerca de R$ 20 milhões.

Busca por novas variedades

A uva de mesa é o foco principal da viticultura do vale do Submédio São Francisco. A área plantada com esse tipo de uva engloba pequenos, médios e grandes produtores, sendo a maior região produtora de uvas finas de mesa do Brasil. A região consagrou-se como polo produtor e exportador de uvas de mesa de alta qualidade, a partir do cultivo da uva ‘Itália’, com elevado padrão tecnológico.

No ano passado, o Vale do São Francisco foi o principal responsável pelas exportações de uva no Brasil, contribuindo com aproximadamente 99,87% do volume (34,3 mil toneladas) e 99,78% do valor bruto de produção total (U$ 72,1 milhões). Cerca de 251 mil toneladas de uva foram produzidas, em 2015, nos projetos públicos de irrigação geridos pela Codevasf em Pernambuco, Bahia e Minas Gerais, representando um valor bruto de produção de R$ 895 milhões. Os estados de Pernambuco e Bahia são os principais exportadores, com 26,6 mil toneladas e U$ 55,5 milhões, e 7,6 mil toneladas e U$16,5 milhões, respectivamente.

A busca de novas cultivares com características agronômicas que atendam às demandas da cadeia produtiva da viticultura no Vale do Submédio São Francisco é constante. Há alguns anos a Associação dos Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco – Valexport, com apoio do Sebrae dos estados de Pernambuco, Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte, viabilizou a execução do projeto “Uvas sem Sementes”, desenvolvido conjuntamente pela Valexport e Embrapa. Esse trabalho constou da implantação e acompanhamento de parreirais das cultivares ‘Perlette’, ‘Centennial’, ‘Flame Seedless’, ‘Moscatel’ e ‘Catalunha’.

Algodão-doce*

Parte das novas cultivares de uva testadas no Vale do São Francisco foi desenvolvida pela International Fruit Genetics, do estado da Califórnia, Estados Unidos, criada numa parceria entre o geneticista de frutas David Cain e os agricultores californianos Jack Pandol e Jim Beagle, que produzem uva no município de Bakersfield.

A busca por novas variedades, de acordo com eles, prioriza a descoberta de sabores – e, obviamente, a conquista de novos públicos, fisgados pelo inusitado paladar. Os experimentos do trio da Califórnia – onde a viticultura é um negócio em ascensão que já gera US$ 1,8 bi –, resultaram em uvas com sabores tão insólitos quanto algodão-doce (cotton candy), cereal matinal (sugar crisp) e chiclete (gum drops).

As sementes não são, como pensam alguns, geneticamente modificadas, e sim resultantes de polinização cruzada feita a mão. “É como ir pescar ou algo semelhante: você nunca sabe o que vai conseguir fisgar”, diz o geneticista David Cain. Milhões de polinizações cruzadas resultam em algumas dezenas de milhares de plantas viáveis, mas poucas produzem boas uvas.

A variedade cotton candy, cujo sabor se assemelha ao do algodão-doce, já arrasta uma legião de apreciadores. Os fãs postam fotos nas redes sociais quando encontram a fruta nos mercados, escrevem aos agricultores perguntando quando ela estará à venda (na Califórnia, a colheita só é possível entre meados de agosto e no mês de setembro) e chegam a ficar irritados quando não conseguem comprá-la.

*Com informações da CBS News

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