terça-feira, março 03, 2015

Pernambuco ganha 1ª sala de aula hospitalar para doentes com câncer

Denifer Leite, 8 anos, da cidade de Piranhas-AL, brinca com Lego com a mãe, Ligiane (Foto: Luna Markman/G1)


Maria de Fátima da Silva está contente que filha Tatiane não perderá novamente o ano letivo (Foto: Luna Markman/G1)

A alagoana Denifer Leite, 8 anos, foi diagnosticada com leucemia no final de 2014. Os médicos aconselharam a família da criança a procurar tratamento no Recife e, há dois meses, ela deixou a cidade de Piranhas, às margens do Rio São Francisco, para se internar no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC). Confiante na recuperação da menina, o maior receio da camareira Ligiane Leite era que a filha perdesse o ano letivo por conta do tratamento. A boa notícia veio nesta segunda-feira (2), com a oficialização de uma classe hospitalar na unidade, a primeira de Pernambuco. Agora, a menina vai poder continuar estudando durante a internação e trilhando a realização do sonho. “Quero ser delegada para fazer justiça”, afirmou a garota, que adora as aulas de português e é fã da Branca de Neve.

A instalação da classe hospitalar foi possível graças à iniciativa do Grupo de Apoio às Crianças Carentes com Câncer (Gacc), que dá suporte às famílias dos pacientes internados no Centro de Oncohematologia Pediátrica do HUOC. Foi o Gacc quem articulou o projeto junto ao hospital, que disponibilizou o espaço físico; ao Instituto Ronald McDonald, que repassou verba para a implantação da estrutura; e à Prefeitura do Recife, que colabora com mão de obra e material didático.

O projeto começou de forma experimental em novembro do ano passado, no quinto andar do hospital, onde se encontram alguns leitos de enfermarias para internamento. A classe batizada de Semear começou, agora de forma oficial, a atender 24 pacientes, com aulas de português, matemática, ciências, geografia, história e artes. A turma engloba estudantes e conteúdos das mais diversas séries. Em média, os alunos têm entre 4 e 15 anos. A frequência é controlada e há provas. As escolas de origem recebem relatórios para acompanhar a evolução dos meninos e meninas e os receber após a desejada alta hospitalar.

As diretrizes para funcionamento das classes hospitalares foram divulgadas pelo Ministério da Educação (MEC) em documento de dezembro de 2002. Atualmente, há em torno de 150 delas em todo o Brasil, sendo 25 no Nordeste, segundo o Gacc. Pernambuco agora comemora a sua primeira. “Em 19 de agosto de 2005, nós construímos este prédio [no HUOC] para atender crianças com câncer, com dinheiro doado pela sociedade. Depois de uma constante busca, conseguimos esta classe para dar um atendimento mais humanizado aos nossos pacientes, que já sofrem grandes perdas. A classe faz renascer a esperança da cura nas crianças, já estamos sentindo, inclusive, uma maior adesão ao tratamento”, afirmou a presidente do Gacc, Vera Morais.

A aposta do Gacc agora é que crianças com câncer internadas em outras unidades de saúde no estado possam ter acesso à educação, como no Hospital das Clínicas, Barão de Lucena, Hospital do Câncer e Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira (Imip). “Não estava no nosso plano de governo a instalação de classes hospitalares, mas, a partir deste exemplo, vamos procurar expandir esse serviço, pois isso faz parte da nossa política de educação inclusiva. O objetivo é evitar o atraso e abandono escolar devido às idas e vindas ao tratamento”, assegurou o secretário municipal de Educação, Jorge Vieira.

Na tarde desta segunda, antes da solenidade de instalação da classe hospitalar no HUOC, a paciente Vanessa da Silva, 10 anos, era apresentada ao projeto Robótica na Escola. A menina é de Petrolina, no Sertão pernambucano, e está internada por conta de uma leucemia. "Da escola, o que eu mais sinto falta é da minha professora Lidinalva. Ela me ensinava tudo, e eu gostava mais de matemática, e também de brincar de boneca", comentou a garota.

A paciente Tatiane da Silva, 14 anos, também acompanhava os movimentos do novo robô. Ele é de Caruaru, no Agreste do estado, e não pôde terminar o quinto ano do ensino fundamental por conta do tratamento contra a leucemia, realizado no Recife. "Eu acho legal ter um projeto assim, porque, mesmo internada, ela não vai perder outro ano. É bom ainda porque não deixa as crianças tão estressadas aqui dentro", disse a mãe, Maria de Fátima da Silva.

Luna Markman/G1 PE

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